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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

SINDICALISTAS E GOVERNO À MESA... NÃO DA NEGOCIAÇÃO, MAS DO COMPADRIO!


Uma vez mais, certas organizações sindicais, convidadas pelo governo regional da Madeira, decidiram sentar-se à mesa, não da negociação de assuntos que aos trabalhadores dizem respeito, mas à mesa de um jantar pago pelo governo. Continuo a defender a irracionalidade desta adesão de interesses que são normalmente contraditórios. Em síntese, negociação é uma coisa, jantar é outra. Negociar constitui perder alguma coisa para que ambos ganhem muito. Um jantar, pelas suas características, traz consigo uma intenção: amolecer os convivas para que alguém, matreiro, se imponha no momento da negociação. Já em 2010 aqui escrevi um texto sobre esta matéria. Vou reproduzi-lo, porque esse continua a corresponder ao meu pensamento.


A expressão, "não há almoços nem jantares grátis", muito utilizada quando queremos referir determinados encontros, não é gratuita. Ela arrasta consigo a imagem de qualquer coisa que se esconde para além do acto social de estar com alguém tendo uma refeição como pretexto. Aliás, à mesa do restaurante não se fazem bons "negócios". A expressão "almoço de trabalho", do meu ponto de vista, na maioria das vezes, traz no seu bojo a ideia de compra e de conquista. Entendo, por isso, que há momentos para trabalhar e decidir e há outros cuja intenção é meramente social. Nunca fui adepto de juntar as duas componentes. Mais, o momento da refeição é, para mim, "sagrado", por isso, tenho de sentir prazer em estar com...
Ora bem, vem isto a propósito de um jantar promovido pelo Secretário Regional da Educação e dos Recursos Humanos, repasto que juntou à mesa os parceiros sociais de vários sectores. Sindicalistas e políticos, entre outros, sentaram-se à mesa para jantar e ouvir o governo a passar-lhes a mão pelo pêlo. Confesso que este tipo de encontro deixa-me perplexo, por dois motivos: primeiro, porque, sobretudo os representantes sindicais, conhecem bem a estrutura e as intenções de natureza política na condução da economia regional e, por extensão, as permanentes angústias dos trabalhadores; segundo, porque este tipo de convívio social tem uma deliberada intenção: amolecer aqueles que são a única tábua de salvação ou a voz dos que não têm voz. Só falta, no "Dia do Trabalhador", governo e trabalhadores brincarem ao lenço no Montado do Pereiro, coisa que, aliás, já vai acontecendo, quando, a Secretaria dos Recursos Humanos, promove actividades que deveriam ser da livre iniciativa das associações sindicais.
Enfim, o jantar aconteceu e este é apenas um desabafo da minha parte, simplesmente porque se estivesse na pele de sindicalista, agradecia a deferência mas não marcaria presença. Quem lá esteve sabe porque esteve e nada tenho a ver com isso. Apenas acho estranho. (...)" 
Continuo a considerar muito estranho, sobretudo numa altura onde a economia desespera, os trabalhadores são tratados como peças descartáveis, onde o desemprego real cresce se tivermos em conta os números da emigração, onde a perda de direitos gerais e específicos são um indesmentível facto, que as representações sindicais se juntem numa confraternização de ano novo. Tais representações sindicais parece esquecerem-se que o ano novo traz consigo velhos problemas por resolver e que, repito, não é ali, num jantarinho, que os dramas se resolvem. Bem estiveram alguns sindicatos que disseram não a mais um convívio daquela natureza. E vergonha deveria ter o secretário dos Recursos Humanos em promover um encontro que, aos olhos de qualquer analista político, serve apenas para tentar demonstrar publicamente uma paz social que de todo não existe.
Ilustração: Google Imagens.

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