Alunos sem aulas. Não é assunto novo, mas merece uma veemente crítica. Por razões diversas, desde o foro da saúde até à assistência legal à família, há situações que levam algumas turmas a esperar quase um mês pela substituição de um docente. Só ontem a RTP-Madeira chegou a esta não notícia. E lá apareceu o director regional dos Recursos Humanos e da Administração Educativa a confirmar que, de facto, tal acontece. É óbvio que os alunos não ficam "abandonados" na escola, pois as direcções executivas colmatam, de diversas maneiras, tais lacunas. Mas, convenhamos, que se trata sempre de uma situação provisória que, face ao enquadramento genérico do sistema, é susceptível de gerar perturbação. Outro fosse o entendimento da organização pedagógica e a ausência de um professor não seria sentida. Mas essa é outra história onde muito poderia ser explanado, mas fico-me por uma questão que a peça da RTP-Madeira não abordou de forma esclarecida. Aliás, raramente o faz. As "bolas" ou batem na trave ou vão para fora! No essencial, que razões subjazem àquela situação, melhor dizendo, porque é que a contratação de um docente de substituição não acontece na aula seguinte. A resposta é só uma: perda da AUTONOMIA financeira. Nem as escolas o podem fazer nem a secretaria da educação tem autonomia para mexer uma palha! Depende do Plano e Finanças e esta secretaria está amarrada ao Plano de Ajustamento Económico e Financeiro e sendo assim, em síntese, dir-se-á que o "livro de cheques" está no ministério das Finanças. Só que uma abordagem dessa natureza colocaria o governo debaixo de fogo. Na esteira desta situação, para os mais distraídos sobre estes assuntos, a questão é saber o que levou à perda de autonomia. Também só há uma resposta: a incapacidade demonstrada, ao longo de anos, para saber gerir o dinheiro de todos nós. Gastaram em megalomanias, esbanjaram tudo, geraram uma dívida superior a seis mil milhões de euros, não respeitaram as prioridades e, portanto, o "paizinho" teve de fechar os cordões à bolsa e chamar a si o controlo do dinheirinho. Deram cabo da Autonomia e, de tempos em tempos falam de "independência"!
Lamento, profundamente, que assim esteja a acontecer, porque este quadro, associado a tantos outros sectores, áreas e domínios, que evidenciam substantivas carências financeiras, está a bloquear projectos prioritários na construção do nosso futuro colectivo. Só a educação pode romper com a pobreza e pode devolver a esperança de uma sociedade equilibrada.
A questão administrativa tem, por isso, uma raiz política, devido a um governo que nunca soube definir, com rigor, o sentido das prioridades políticas, económicas, sociais e culturais, simplesmente porque relegou para último plano de análise os princípios norteadores do desenvolvimento. Tem razão o meu Amigo Dr. Carlos Pereira que, ainda hoje, na sua página de facebook escreveu: "(...) Finge-se que nada se passa. Convenciona-se que nada de diferente pode acontecer e há mesmo quem acredite que a situação que vivemos é uma fatalidade. É uma tristeza este marasmo e esta apatia que nos absorve as energias e esconde as soluções. Enquanto o partido da maioria entretém-se com fantasias e espuma, o governo desse partido sufoca o povo com opções para esconder as suas responsabilidades e culpas que, ainda por cima, ameaçam morrer solteiras!".
Entretanto, porque para este governo o cimento e o "alcatrão" funcionam tal como o "bloom" está para o drogado pobre, toca a aproveitar algum dinheiro disponível nos cofres nacionais, para continuar a política de "obras", concretamente, de estradas, algumas que nunca deveriam ter sido iniciadas. Os alunos, esses, que levem o papel higiénico para a escola, os pais que encontrem solução nos explicadores e resolvam as carências em casa por ausência de uma séria e ponderada acção social educativa. Fico por aqui do tanto que me apetecia dizer a uma secretaria da Educação e dos Recursos Humanos, cujos políticos, se honestos, deveriam colocar os seus lugares à disposição. Porque há limites para tudo.
Ilustração: Google Imagens.
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