"O conjunto de medidas que me enviou para apreciação parece-me extraordinário. Confiscar as pensões dos idosos é muito inteligente. Em 2015, ano das próximas eleições legislativas, muitos velhotes já não estarão cá para votar. Tem-se observado que uma coisa que os idosos fazem muito é falecer. É uma espécie de passatempo, competindo em popularidade com o dominó. E, se lhes cortarmos na pensão, essa tendência agrava-se bastante. Ora, gente defunta não penaliza o governo nas urnas. Essa tem sido uma vantagem da democracia bastante descurada por vários governos, mas não pelo seu. Por outro lado, mesmo que cheguem vivos às eleições, há uma probabilidade forte de os velhotes não se lembrarem de quem lhes cortou o dinheiro da reforma".
Três notas.
Três notas.
1ª Os 85 quadros de Miró
O Ministério Público avançou com uma providência cautelar, proposta pelo PS, para tentar suspender o leilão na Christie's, de um conjunto de quadros de Miró que o Estado "herdou" após a nacionalização do BPN. Se o Juiz do Tribunal Administrativo de Lisboa não considerá-la (a todo o momento espera-se pela decisão), o leilão acontecerá e o mais provável é que muitos dos 85 quadros saiam, definitivamente, do País. Aliás, os quadros, para efeitos do leilão, saíram, ilegalmente de Portugal. O leilão está previsto para hoje, às 19:00 horas. Ontem, ao princípio da noite, o Diário Económico divulgou: "O 2º Juíz do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa está, neste momento, a ouvir por vídeo conferência a deputada socialista Gabriela Canavilhas e já chamou para audiência, no Campus de Justiça, os restantes deputados subscritores da providência cautelar para impedir a venda da colecção de 85 quadros de Miró no leilão na Christie's prevista para esta terça e quarta-feira. Também os representantes do Estado serão ainda hoje ouvidos, num contra-relógio para que a decisão seja tomada em tempo útil de travar o leilão que começa amanhã às 19 horas em Londres".
Seja qual for a decisão, este é, desde logo, o leilão da vergonha e da ignorância de quem governa. Até os espanhóis estão espantados com a decisão do governo. Para estes senhores, com o pin da bandeira nacional na lapela, é muito mais importante o dinheiro fresco que o valor das obras e a riqueza cultural; para esta gente é mais importante discutir o sim ou não ao Eusébio no Panteão do que preservar um riquíssimo património da humanidade; para a dupla Passos/Portas, a Cultura e a Ciência não são importantes para o Povo: a Cultura está de corda ao pescoço e na investigação científica roubam nas bolsas de estudo. É assim e ponto final, porque o deus mercado assim obriga!
Tenho tido a felicidade de poder visitar dezenas de museus e galerias um pouco por toda a Europa. De Miró contemplei inúmeros quadros. Um dos últimos espaços que visitei foi o da Fundação Miró, em Montjuic, Barcelona, sua cidade natal. Sinto pena de pertencer a um País que considera que a CULTURA é assunto menor. Quanto enganados estão!
Recebi e divulgo esta mensagem: "A revelação de Manuela Ferreira Leite, em programa televisivo na Quinta-feira à noite, foi seguida por um silêncio quase sepulcral. Nenhum dos jornais que se auto-proclamam como "referência" mencionou o assunto. A excepção honrosa foi o Jornal I. Pela boca da ex-ministra das Finanças e antiga dirigente do PSD ficou-se a saber que: 1) o governo P. Coelho - P. Portas fez uma reserva oculta de 533 milhões no Orçamento de Estado de 2014; 2) que tal reserva daria para cobrir, folgadamente, as consequências do chumbo no Tribunal Constitucional – "ainda sobrariam 200 milhões", disse ela; 3) que, portanto, a sanha persecutória do governo contra os reformados, com cortes drásticos nas pensões, não tem qualquer razão de ser; 4) que desconhece a que se destina o enorme "fundo de maneio" de 533 milhões à disposição da actual ministra das Finanças – "no meu tempo este fundo era apenas de 150 milhões", disse Ferreira Leite. Verifica-se, assim, que a infâmia do governo Coelho-Portas é ainda maior do que se pensava. Há recursos orçamentais vultosos que são sonegados, reservados a finalidades desconhecidas do público. E, apesar disso, o governo pratica uma nova e brutal punção sobre os magros rendimentos dos pensionistas".
3º Um parecer de Ricardo Araújo Pereira (17.10.2013)
Caro sr. primeiro-ministro,
O conjunto de medidas que me enviou para apreciação parece-me extraordinário. Confiscar as pensões dos idosos é muito inteligente. Em 2015, ano das próximas eleições legislativas, muitos velhotes já não estarão cá para votar. Tem-se observado que uma coisa que os idosos fazem muito é falecer. É uma espécie de passatempo, competindo em popularidade com o dominó. E, se lhes cortarmos na pensão, essa tendência agrava-se bastante. Ora, gente defunta não penaliza o governo nas urnas. Essa tem sido uma vantagem da democracia bastante descurada por vários governos, mas não pelo seu. Por outro lado, mesmo que cheguem vivos às eleições, há uma probabilidade forte de os velhotes não se lembrarem de quem lhes cortou o dinheiro da reforma.
O grande problema das sociedades modernas são os velhos. Trabalham pouco e gastam demais. Entregam-se a um consumismo desenfreado, sobretudo no que toca a drogas. São compradas na farmácia, mas não deixam de ser drogas. A culpa é da medicina, que lhes prolonga a vida muito para além da data da reforma. Chegam a passar dois e três anos repimpados a desfrutar das suas pensões. A esperança de vida destrói a nossa esperança numa boa vida, uma vez que o dinheiro gasto em pensões poderia estar a se aplicado onde realmente interessa, como os swaps, as PPP e o BPN.
Se me permite, gostaria de acrescentar algumas ideias para ajudar a minimizar o efeito negativo dos velhos na sociedade portuguesa:
1. Aumento da idade da reforma para os 85 anos. Os contestatários do costume dirão que se trata de uma barbaridade, e que acrescentar 20 anos à idade da reforma é muito. Perguntem aos próprios velhos. Estão sempre a queixar-se de que a vida passa a correr e que vinte anos não são nada. É verdade: 20 anos não são nada. Respeitemos a opinião dos idosos, pois é neles que está a sabedoria.
2. Exportação de velhos. O velho português é típico e pitoresco. Bem promovido, pode ter grande aceitação lá fora, quer para fazer pequenos trabalhos, quer apenas para enfeitar um alpendre, ou um jardim.
3. Convencer a artista Joana Vasconcelos a assinar 2.500 velhos e pô-los em exposição no MoMA, em Nova Iorque.
Creio que são propostas valiosas para o melhoramento da sociedade portuguesa, mantendo o espírito humanista que tem norteado as suas políticas.
Cordialmente,
Nicolau Maquiavel
Conclusão:
Do cruzamento destas três notas podemos concluir que o que interessa é sacar dinheiro e que se lixem os portugueses, muito mais a cultura. Sacar, roubar, extorquir, confiscar, esbulhar, eu sei lá, tantos são os verbos que este governo conjuga. Escreveu o meu Amigo Filósofo Doutor Manuel Sérgio: "(...) a cultura como produto vendável, segundo as leis do mercado, é tudo quanto o capitalismo sabe de cultura (...)". É verdade. E quando falta essa base cultural, essa capacidade de saber fazer a síntese de tudo quando nos rodeia, obviamente, que os quadros de Miró deixam de ter qualquer interesse e a comunidade apenas é um instrumento para atingirem os seus inconfessados interesses. Que pobreza de gente nos governa!
Ilustração: Google Imagens.
Ilustração: Google Imagens.
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