Em visita a uma obra, o vice-presidente do governo regional da Madeira, Dr. João Cunha e Silva, disparou: “(…) Há quem se esqueça muito rapidamente do que aconteceu no dia 20 de Fevereiro, há quem se esqueça dessa tragédia, há quem se esqueça que morreram 50 pessoas e que nós precisamos de trabalhar muito para evitar tragédias dessa dimensão”. Ora bem, ninguém se esquece ou esquecerá. Todos estão lembrados e guardam em memória activa esse trágico dia. O problema, por isso, é outro, não é de esquecimento, mas sim de avaliação da incúria de um governo que, ao longo de trinta e tal anos, desrespeitou os instrumentos de planeamento e que se permitiu, de braço dado com as autarquias locais, fechar os olhos ou assobiar para o lado, relativamente à necessidade de um rigoroso controlo no que concerne à defesa de pessoas e bens.
Foram trinta e tal anos de ofensas aos movimentos ecologistas, aos geólogos, aos geógrafos, aos académicos e aos políticos da oposição, que tantas vezes chamaram à atenção para os erros que estavam a ser cometidos. Disso, Senhor vice, ninguém se esquece. Se outra tivesse sido a responsabilidade política, possivelmente, não teriam morrido tantas pessoas; se outra tivesse sido a responsabilidade política do governo, as sucessivas chamadas de atenção tinham tido eco e as obras de protecção há muito estariam concretizadas. É disso que ninguém se esquece. Ninguém se esquece que andam a mudar, radical e perigosamente a baía do Funchal, quando a necessidade primeira seria, com o dinheiro da Lei de Meios, acudir as pessoas que vivem em zonas de risco ou que ainda se encontram desalojadas. Esteja descansado que, politicamente, ninguém se esquecerá da incúria, do laxismo, dos discursos ocos, da inversão das prioridades e do “planeamento directo” realizado nos adros das igrejas em tempo de campanha eleitoral. Foram anos que bastava pedir, porque, para os senhores, estava em causa, não a defesa das pessoas, mas a eleição seguinte. Portanto, de nada valerá passar uma esponja sobre o passado, mascarar as situações, sacudir as responsabilidades, porque as pessoas conhecem as razões que conduziram a que a tragédia não fosse atenuada.
Ilustração: Google Imagens.
Sem comentários:
Enviar um comentário