Estamos a viver um período que, no essencial, está muito próximo das lutas que os trabalhadores desencadearam em Chicago, em 1886. Os tempos históricos são diferentes, é certo, mas a essência dos quadros é semelhante. Isto é, os tempos são outros, as dinâmicas sociais diferentes, as almofadas que esbatem o peso do esmagamento estão adaptadas aos tempos modernos, mas que os trabalhadores estão, alegremente, ou quase, encostados à parede, penso não subsistirem grandes dúvidas. Atente-se nas taxas de desemprego, nas facilidades do despedimento, na emigração forçada, nos salários de miséria, nas horas extraordinárias que não são pagas, no banco de horas, no número de horas semanais de trabalho, na estrutura e cadência horária do trabalho que não deixa espaço para a família e para o lazer, na pressão feita sobre as pessoas obrigadas a absurdos planos de objectivos, na precarização dos postos de trabalho, na angústia que invade quem, teoricamente, é efectivo, na penosa carga fiscal, na retirada dos direitos sociais, enfim, o dia de hoje é, sem margem para dúvidas, de LUTA intensa contra um sistema altamente sufocante.
Hoje é o dia dos trabalhadores. Não é o dia do governo. Embora assim sendo, com uma incomensurável lata, o governo regional da Madeira organiza a "festa", disponibiliza autocarros ao preço da uva mijona para as zonas de potencial convívio, promove umas corridinhas e umas homenagens, tudo com o sentido de desviar as atenções do que realmente é importante. Enquanto estiverem a brincar ao lenço, a comer uma espetada, a tomar uns canecos ao som da música pimba, distraem-se da cruz que carregam no dia-a-dia. Quem assim se porta não tem a mínima noção do sofrimento das pessoas. E o pior disto é que o organizador chama-se Jaime de Freitas, Professor, ex-sindicalista e agora secretário da Educação e dos Recursos Humanos. Segue os passos do seu antecessor Brazão de Castro. Está no livrinho das acções partidárias que lhe compete, pelo que não há que pensar, muito menos inventar. Provavelmente será a última vez que o governo tenta esconder a acção dos sindicatos a quem compete organizar todas as manifestações de luta. Simplesmente porque a MUDANÇA anda aí e o 1º de Maio, Senhor secretário, não é para brincar ao lenço, é para lutar contra os desmandos de quem governa mal. Serve para chamar à atenção, para reivindicar, para dizer em alto e bom som que nos estão a esmagar, que têm de adoptar outras políticas, para afirmar a desproporção entre os deveres que incumbem a quem trabalha, perante a sonegação dos direitos constitucionalmente consagrados. O 1º de Maio não se resolve com um ramo de flores no monumento aos trabalhadores ou com um tiro de partida para uma prova desportiva. A isso chama-se aldrabice, provocação, engano e mentira. O 1º de Maio envolve princípios, valores, respeito pelos outros e sobretudo, para quem governa, um sentimento que se exprime em uma única palavra: humanismo. Significados que demonstram desconhecer e, então, jogam com o folclore, a ignorância como se a vida não fosse mais do que um dia passado fora de casa.
Ilustração: Google Imagens.
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