"Chumbos não ajudam a recuperar o desempenho dos alunos. Portugal tem das taxas de retenção mais elevadas da OCDE, mas a medida não é eficaz, diz o estudo do Banco de Portugal".
Chumbar nos primeiros seis anos de escola prejudica o desempenho dos alunos, pelo menos a avaliar pelos resultados dos testes PISA. Por isso dizem os autores de um estudo publicado pelo Banco de Portugal, há vantagens em substituir a retenção, por medidas alternativas de apoio. (Expresso). Rigorosamente nada de novo nesta posição. Apenas a confirmação do que há muito se sabe. É, por isso, que várias vezes aqui tenho escrito e questionado o secretário da Educação sobre o seu posicionamento no quadro da Autonomia Político-Administrativa. Não se trata de um problema Constitucional, mas sim organizacional. Não se trata de um impedimento da Constituição da República ou da Lei de Bases do Sistema Educativo, mas de pensamento estratégico. Não se trata de um problema apenas da secretaria de Educação, mas de um trabalho sistémico que envolve outras secretarias a montante da Escola. E custa-me ver que a Madeira não tenha uma ideia sobre esta matéria. Pelo contrário, apoia o ministro, verga-se perante o erro e a teimosia de um homem que deseja que o presente se faça à imagem do seu passado escolar, quando os tempos são outros. É a tal frase que tantas vezes aqui repito, a de uma "escola sempre igual a competir com a vida que é sempre diferente". Às vezes chego a pensar se acredita no formato dos exames ao contrário de uma avaliação rigorosa e contínua, ou se se serve dos alunos para avaliar o desempenho docente. Seja como for, de uma maneira ou de outra, está completamente errado.
Voltar a escrever sobre o mesmo é chover no molhado. Por isso, deixo aqui um texto que alinhavei em Janeiro de 2013. Talvez ajude a melhor situar os leitores desta página face a este problema:
"Não vou muito longe e socorro-me de algumas passagens de um incisivo artigo do Professor José Pacheco (figura que ainda ontem destaquei) publicado na edição de Inverno de 2012 da revista A Página da Educação. O artigo começa assim: "A conceituada revista Science deu a conhecer um estudo que contraria tendências reveladas em recentes decisões de política educativa. (...) Deborah Stipek, docente da Faculdade de Educação da Universidade de Stanford, trabalhou o seu estudo ao longo de 35 anos. A autora do estudo denuncia o facto de os jovens serem treinados para obterem bons desempenhos em testes e afirma que é aberrante uma educação centrada em resultados mensuráveis e em rankings. E acrescenta que a preparação para exames sufoca a formação de uma personalidade madura e equilibrada. (...) Irá o senhor ministro contrariar dados científicos? - questiona e prossegue: (...) Deborah sublinha o facto de o sistema de exames produzir especialistas em provas enquanto prejudicam vidas que poderiam ser promissoras. Em suma, sublinha o Professor José Pacheco, "um ambiente escolar competitivo, voltado para testes e exames é prejudicial à aprendizagem. E quem o afirma é a revista Science que tem por título "Educação não é uma corrida". Escutemos a pesquisadora: "O sistema actual baseado no desempenho em testes, pode prejudicar muito a formação de grandes pensadores. Esta forma de ensino promove um verdadeiro extermínio de grandes mentes. A maneira como a educação é organizada na actualidade faz com que potenciais vencedores do Prémio Nobel sejam perdidos mesmo antes da educação básica, já que o modelo de ensino massacra qualquer outro interesse que não seja o cobrado nos exames. É importante desenvolver talentos. Isso sim tem um papel importante no futuro de alguém". Mais adiante, o Professor José Pacheco traz à colação a coordenadora do Centro de Pesquisa em Empreendedorismo da Universidade de S. Paulo: "É preciso redescobrir o signicado de ir à escola, de estudar. Mercado de trabalho e status social são questões que devem deixar de nortear as políticas educacionais. A sociedade valoriza muito mais o trabalho cooperativo, mas a escola forma alunos muito mais focados no trabalho individual" (...) A maioria dos grandes pensadores que deixaram um legado para a humanidade seguiram caminhos muito diferentes do convencionalmente estabelecido".
Portanto, concluo, a questão central não pode circunscrever-se aos exames, mas à mudança do sentido de Escola. Mudança de paradigma que é difícil, sublinho, não só porque os políticos não se interrogam, mas porque há uma mentalidade formatada e encaixotada que impede desde logo a discussão séria dos assuntos. E se os centros universitários de formação e investigação bem lutam por uma mudança, a verdade é que se trata de uma luta desigual, simplesmente porque, por ignorância altifalante, os decisores não querem ouvir.
Esta mudança, que leva muitos anos, quando está em causa a completa ruptura de um sistema e a paulatina criação de um outro, não significa, no ensino básico, é dele que estamos a falar, ausência de avaliação quer no vértice da pirâmide do sistema (vértice estratégico - ministério ou secretaria regional), quer na linha hierárquica (ao nível de escola), quer ao nível do centro operacional (professores e alunos). Pelo contrário, as exigências são muito maiores, porque formativas, contínuas e sistémicas. Mas para essa construção falta, na expressão de Rubem Alves uma "erecção da inteligência" a todos os níveis!"
Ilustração: Google Imagens
OUTROS TEXTOS:
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http://comqueentao.blogspot.pt/2013/05/exames-de-1-ciclo-e-ereccao-da_2.html
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