Na linguagem rebuscada, com pinceladas barrocas, da Presidente da Assembleia da República, o Portugal do futebol teve, esta semana, um “inconseguimento frustracional”. Coisa que para o Presidente da República não é de somenos importância, mas que para mim, humilde cidadão, passa como a água nas penas de um pato! Disse-me um dia, em amena cavaqueira, o meu Amigo Doutor Manuel Sérgio: “se o País não está bem o desporto não pode estar melhor”. Mesmo a área profissional. E porque essa é a realidade, hoje, regressaremos ao estado (a)normal e ainda bem, porque há muito mais coisas preocupantes que não o futebol. Aliás, um país onde mais de 70% da população não tem hábitos culturais de prática física ou desportiva, afogado em dívidas, sem trabalho e muitos comendo o pão que o diabo amassou, não deixa de causar uma certa perplexidade (aqui e em outros lugares do Mundo) que encha, literalmente, praças, em estado sofredor, mas que seja incapaz de sair de casa para dizer basta a esses diabos que infernizam a vida, que ganham sempre no jogo dos interesses, os tais que impedem, às escâncaras, o direito à felicidade, mesmo que mínima. Como se a educação, a saúde e os direitos sociais pudessem esperar. Um paradoxo.
Hoje, com ou sem “gana”, convictamente, oxalá nos despeçamos da festa da ilusão, embora o rescaldo deste fogo ateado leve semanas. As televisões, as rádios, os jornais, os comentadores, tantos de barriguinha feita e níveis impróprios de colesterol, tantos que engrossam a fila dos tais 70%, continuarão a debitar, enchendo o chouriço das horas de vazio para disfarce das dores sociais sentidas.
Confesso: tenho orgulho no chão onde nasci, nesta bandeira que me identifica, mas sou incapaz de gastar um cêntimo em um cachecol, colocar um símbolo na varanda ou em desfraldar uma bandeirinha no carro. Orgulho teria se o povo fosse respeitado, o trabalho considerado um direito, a escola e o seu desporto fossem portadores de futuro, o direito à saúde privilegiado, a juventude não tivesse que partir, ah, e não roubassem os pobres, os reformados e pensionistas para entregar aos de colarinho branco. Se assim fosse, na esteira de Sérgio, o desporto estaria melhor e o orgulho cresceria. Portanto, ainda bem que a histeria fabricada está a terminar e que o sonho que sempre foi pesadelo determine que o povo acorde para a realidade. Para mim, hoje, tratar-se-á de uma “saída limpa”, esta sim, que nos coloca com os pés e a inteligência na realidade.
Ilustração: Google Imagens.
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