No exercício de cargos políticos não se pede desculpa, demite-se. Quando uma decisão afecta milhares ou mesmo milhões de pessoas, a desculpa não serve para nada, tampouco a demissão, é verdade, porque o mal está feito, mas acima de tudo pede-se dignidade face aos cidadãos eleitores. Na política é assim ou deveria ser assim. O caos na Educação e na Justiça revela incompetência e esta paga-se pedindo para sair, queira ou não o primeiro-ministro. Para mim é uma regra "sagrada" do funcionamento da democracia representativa. Colocam a Justiça de pantanas e a ministra pede desculpa! Colocam a Educação em polvorosa, com milhares de professores desencantados e com escolas a funcionar a meio gás e o ministro pede desculpa. Deveriam sim assumir as responsabilidades políticas, "pedir desculpa" e sair do governo como prova de dignidade e respeito pelos eleitores.
Lembro-me da ponte "Entre-os-Rios" que ruiu, tendo morrido dezenas de pessoas e o ministro das Obras Públicas, em Lisboa, apresentou a sua demissão. Não foi ele o culpado directo do colapso da ponte, mas Jorge Coelho sentiu essa necessidade, apenas porque a ponte estava sob a sua alçada e a manutenção pertencia ao Estado. Eu diria: limpinho. Isto, para além das consequências que um processo judicial poderia desenvolver.
No caso da Justiça, andam para aí milhões de processos quase "à deriva", audiências adiadas, uma plataforma informática pelas pontas e a ministra continua como se nada tivesse acontecido; na Educação, verificaram-se erros gravíssimos na colocação de milhares de professores e o ministro apenas diz "(...) Peço desculpa aos pais, aos professores e ao país". Bem esteve o Director Geral da Administração Escolar, Mário Agostinho Pereira que pediu a demissão.
Enfim, somos governados por incompetentes, por insensíveis e, sobretudo, por gente que rasga a carta de demissão porque até o significado da palavra "irrevogável" é muito particular.
Ilustração: Google Imagens.
Sem comentários:
Enviar um comentário