Confesso a minha desilusão e frustração política face à prisão preventiva do Eng. José Sócrates. Passo ao lado da vergonhosa Justiça tornada em um espectáculo gratuito oferecido nos últimos dias aos portugueses e a todo o Mundo. O recato e o bom senso que deveriam ser apanágio da Justiça, deu lugar à montagem de um circo ao qual ninguém ficou indiferente. Confirmaram-no e condenaram-no tantos comentadores e especialistas do Direito. O que disseram está dito e ponto final. O que me leva a escrever algumas linhas é a desilusão e frustração que me invade, embora sobre o ex-primeiro-ministro apenas existam fortes indícios de um comportamento reprovável. Ele não foi condenado e, portanto, até à sentença, tem de ser considerado um cidadão inocente. Lá mais para a frente se saberá toda a verdade. Também aqui, porque não sou especialista nem conheço o processo, não teço considerações. Agora, não fico indiferente a tudo o que está a acontecer, não apenas neste caso, mas em todos os outros que são do domínio público. Há, penso que se pode concluir, uma enorme trapaça desde a banca aos municípios, até às mais altas figuras do Estado.
E é esta trapaça que nos anda a devorar. Tantos que se apresentam como impolutos, no fundo, andam por aí revestidos de uma capa que esconde as suas verdadeiras motivações. É frustrante quando se esfumam as referências públicas de seriedade e de honestidade. Torna-se decepcionante e provocador de demissão da participação cívica, quando se olha em redor e assiste-se a um salve-se quem puder! Ora, se a Justiça de facto despertou, só espero que vá muito mais longe. Há, com toda a certeza, enriquecimentos de base ilícita, muitas riquezas mal explicadas, muitos milionários de um momento para o outro e muitas situações que podem configurar atitudes de corrupção. Não basta prender meia-dúzia para que tudo o resto continue em águas mornas, aliás, como tem sido sensível aos olhos do povo português. Há muito que sustento, aqui e lá, uma gigantesca operação "mãos limpas" porque os sinais provam que andamos a ser corroídos no direito à felicidade. O Zéca Afonso cantou os "Vampiros"... "eles comem tudo". Pois, eles, banca, as mais altas figuras do Estado e todo o sistema que anda embrulhado em papel de celofane colorido. Não é o regime democrático que está em causa, mas o sistema político que resvalou para uma situação, repito, de desilusão e de frustração.
Cuidado com aqueles que, aproveitando-se da situação, dizem que "os políticos não são todos iguais". Acredito que não sejam. Há muita gente, muita mesmo, honesta e que faz do exercício da política um serviço público à comunidade. Estão na política porque acreditam numa sociedade melhor. Os outros, com rabinhos de palha, que não se aproveitem, porque se hoje, preventivamente, alguns estão privados da liberdade, amanhã, poderão aparecer processos ligados a tanta situação impensável.
Ilustração: Google Imagens.
2 comentários:
Caro Professor, sejamos honestos, os sinais estavam lá todos, só não os viu quem quis manter-se numa tranquilidade enganadora. E já que não podemos fazer nada para emendar o passado, estejamos atentos aos sinais que o presente nos coloca à frente dos olhos. Quando começo a ver fumo sei que mais cedo ou mais tarde haverá fogo.
Obrigado pelo seu comentário.
Não conheço o processo e daí considerar importante aguardar pelas audiências de julgamento. Um abraço.
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