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segunda-feira, 20 de agosto de 2018

DE QUE ALIANÇA FALA PSL


Confesso a minha dificuldade em compreender um cidadão que, ao longo de muitos anos desempenhou cargos políticos de relevante importância, foi ministro, primeiro-ministro e presidente da Câmara de Lisboa, entre tantas outras funções partidárias, aos 62 anos, se decida pela criação de um partido político. As históricas convicções políticas do Dr. Pedro Santana Lopes, os princípios que defende não se alterarão, obviamente. Porque são princípios e esses têm uma raiz imutável. Os valores, sim, são mutáveis, mas quais? Aqueles que o identificaram durante quarenta anos de actividade política, pelos quais se bateu e até foi eleito? Penso que não, e sendo assim, perguntar-se-á, o que faz o Dr. Pedro Santana Lopes romper com o seu partido para embarcar nesta aventura? Legítima, é certo, mas porquê? O que se esconderá por detrás desta surpreendente aventura? Trata-se de uma decisão que, pressuponho, esconde muitos contornos partidários internos de tonalidade cinzenta. O bas-fond ferve a temperaturas muito elevadas! A "Aliança" é, portanto, fumo de um gigantesco fogo que anda pelas suas bandas.


Sobre os fundamentos programáticos deste novo partido, penso que se colocam dois âmbitos de análise: interno e externo. No plano externo, assume o líder: "(...) A União Europeia precisa de ser reformada e Portugal precisa de reforçar a sua atitude face à União”  - Fonte: Observador. No essencial, tudo o que todos dizem. Não apenas os políticos, mas todos quantos a seguem. Consequentemente, nada de novo no discurso de Pedro Santana Lopes. Ademais, na prática, convenhamos, a nossa voz na Europa, no contexto das nações, é muito fraquinha e quase inaudível. Apesar de alguns lugares políticos de enorme relevo, a verdade é que Portugal é periférico, pequeno e frágil. Os grandes interesses, políticos, económicos e financeiros, têm esmagado o que o bom senso aconselharia ser realizado. Santana Lopes conhece (esteve presente em 2004), por exemplo, o Clube Bilderberg, esse fórum, de agenda secreta, com a participação de personalidades influentes no mundo empresarial, académico, mediático ou político. Reúne-se, anualmente em hotéis de cinco estrelas reservados para a ocasião, geralmente na Europa, embora algumas vezes tenha ocorrido nos Estados Unidos e Canadá. A intenção inicial do Clube de Bilderberg, salienta o investigador Daniel Estulin (autor do livro "Clube Bilderberg, os Senhores do Mundo", com chancela da Temas e Debates) era promover um consenso entre a Europa Ocidental e a América do Norte através de reuniões informais entre indivíduos poderosos. Hoje, a teoria que mais se opõe à estratégia oficial diz que o Clube Bilderberg tem o propósito de criar um governo totalitário mundial. Este é, apenas, um ponto, o que leva a deduzir da nossa pequenez em mudar o rumo político da Europa. Ela mudará pela força externa dos cidadãos e não propriamente pelos interesses instalados. Não por um qualquer partido, ainda por cima, que agora nasce. A Europa ou muda ou será mudada ou, ainda, entrará em colapso, é certo. Mas tudo isso não dependerá de Portugal.
Se, em relação à Europa estamos conversados, pelo menos é este o meu sentimento, já no plano interno é muito limitado apresentar um novo partido vocacionado, registo, para a necessidade de um novo olhar para a cultura, inovação e o mar. Em um combate à desertificação e abandono de território — “imperativos absolutos” — e um reforço do papel do Estado na segurança e na justiça: “A celeridade da justiça e boas decisões judiciais são vitais para a confiança”. Onde já ouvi isto? Mais: um partido que enuncia "esquemas de previdência alternativos e individualizados" (segurança social) e, no sistema nacional de saúde, a integração de "investimento em seguros de saúde eficazes" com o Estado a acompanhar o esforço dos portugueses através de "deduções fiscais efectivas", constituem linhas programáticas há muito debatidas e rejeitadas pelos portugueses. Seguem-se, mais uns quantos lugares-comuns: um Orçamento de Estado "equilibrado" e um rigoroso “controlo da despesa pública", especificando dois caminhos prioritários: "Políticas de consolidação da dívida pública que não limitem tanto a margem de manobra orçamental" e uma "forte redução da carga fiscal".
Não trazendo, pelo menos aparentemente, nada de novo, pergunto, de que "Aliança" fala Pedro Santana Lopes? Em abstracto, talvez, se trate de uma tentativa de dividir o eleitorado do PPD/PSD e do CDS, garantindo uma maioria absolutíssima do PS e, se não for atingida, um governo PS/Aliança, como forma de eliminar a actual maioria de esquerda (PS/BE/PCP/Verdes). Na política o que parece é, dizem. Será? E, se assim é, quem são os estrategos desta jogada? Pessoalmente, prefiro a manutenção do actual quadro de governo, onde são respeitadas as diferenças ideológicas, mas onde existe convergência no essencial.
Ilustração: Google Imagens.

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