Gente enganada. Há pessoas que parece que não aprenderam nada no exercício da política. Aliás, estamos a passar um período de tentativa de branqueamento do passado. Uns levam à pureza do altar pessoas que estão comprometidas até ao pescoço e que são responsáveis directas e indirectas pelo estado a que a Região chegou. E, num ápice, pintam de fresco, ficam amnésicos, passam a esponja sobre o passado, concedem o benefício da dúvida mesmo quando é sensível que os lobinhos estão vestidos de cordeirinhos. Inacreditável. O que tenho lido e ouvido, não é que me deixe perplexo, mas a certeza que estão a proporcionar um terreno fofo para os actuais governantes poderem laborar como imaculados. Já aqui o disse que, para mim, não há lugar para um qualquer "estado de graça", sobretudo porque o baralho é o mesmo, apenas os jogadores mudaram de cadeiras, as cartas foram redistribuídas, mas a maneira de jogar segue os mesmos cânones. O jogo está à frente de todos, as cartas estão viciadas e só não percebe quem não quer.
Pergunto, então, se existe alguma novidade? Se é possível ter esperança em melhores dias? Isto, quando os protagonistas, apenas, neste momento, a avaliar pelo "programa de governo", escondem as cartas, discursam de forma mansinha, não se comprometem com nada, e quando digo com nada é porque não estabelecem metas objectivas (objectivos quantificáveis), garantindo assim passar entre os vários fogos políticos, financeiros, económicos, sociais e culturais sem se chamuscarem. Aliás, todos os partidos da oposição, ainda na edição de ontem do DN-Madeira, referiram o carácter "generalista" do programa de governo (CDS), "extremamente vago" (JPP), "reticências em mudar de rumo" (PS), em nova "agressão ao povo" (CDU), de "manutenção dos sacrifícios" (BE), "omisso no essencial" (PTP) e cheio de "generalidades e banalidades (PND).
Dirão alguns que este é o discurso da oposição, só que também li e escutei o que disseram, e com olhares partidariamente distantes, ao mesmo cheguei. Alguém, porventura, acreditará nas palavras, por exemplo, do líder parlamentar do PSD, Dr. Jaime Filipe Ramos, que fez "um apelo ao fim das teimosias e arrogâncias de todos" (DN)? Alguém se esquecerá dos seus inflamados discursos e de constantes provocações ao longo de vários anos? Que medicamento tomou para tamanha mudança no que concerne ao comportamento político? Ou será que considera que a população precisa de "memofante" e não o pode adquirir?
Ora bem, é preciso descobrir a sinceridade, no meio desta aparente urbanidade, deste "solene" pedido de tolerância, promessa e juras de cumprimento das regras democráticas. Quem tem uma história de desprezo pelas oposições, quem sempre partidarizou as instituições de debate (Câmara do Funchal, por exemplo), quem sempre negou direitos das oposições e os próprios deveres de eleitos, quem no exercício de funções e cargos alinhou pelo jardinismo, não pode beneficiar de um apagão da consciência colectiva. Quem hoje governa transporta a mesmíssima matriz ideológica, todavia, sabe que estando ligado à máquina da angustiante dívida só lhe resta esta atitude de bonzinhos de circunstância. Na política "o que parece é"! Por isso, para alguns, aqui fica o registo, nada de benefícios da dúvida. Eu pelo menos não dou. Nem vou na historieta que ontem ouvi através de uma personagem secundária que considerou ter "fé e esperança". Se isso alivia a dor, pois que a tenha!
Ilustração: Google Imagens.
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