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domingo, 26 de agosto de 2018

A DIOCESE MANTÉM-SE CALADINHA


O Padre José Luis Rodrigues escreveu, nos últimos dias, dois importantes textos: o primeiro, sugerindo um alargado debate universal sobre o celibato; no segundo, manifestou-se junto do presidente do governo regional da Madeira contra a reconstrução da Capela das Babosas (Monte), levada pelo temporal de 2010. Dois textos, um de interesse universal e outro de interesse local, ambos muito oportunos. Hoje, quero centrar a minha atenção sobre a Capela das Babosas, cuja "carta aberta" ainda ontem aqui reproduzi e que pode ser lida no blogue "O Banquete da Palavra". Quando o presidente do governo regional da Madeira anunciou a disponibilização de uma verba de € 400.000,00 para tal construção, o sentimento que tive foi, exactamente, a do Padre José Luis. Questiona se não seria essa "pipa de massa" mais bem empregue na "saúde e na educação", para logo depois acrescentar: "(...) E a Igreja do Monte que acusa graves necessidades de restauro? O que pensará a chamada população do Monte sobre a sua/nossa emblemática Igreja de Nossa Senhora do Monte? (...)

Foto Rui Marote/Funchal-Notícias.

Diariamente passo frente a uma capela (ver foto) e sinto uma dor por vê-la ao abandono. Não foi destruída pelas cheias de 20 de Fevereiro de 2010. A violência do temporal não a levou. Mas está para ali. Segundo o Professor Nelson Veríssimo "(...) teria sido mandada erguer por João Gonçalves Zarco, o primeiro capitão do donatário do arquipélago da Madeira, na capitania do Funchal. De início, o seu orago era São Pedro. Junto à capela, foi instituído um hospital, o primeiro do Funchal, edificado em terreno doado por Zarco, no ano de 1454. Funcionou durante quinze anos. A freguesia de São Pedro, instituída em 1566, extinta em 1579 e restabelecida em 1587, teve a sua primeira sede na capela com a mesma invocação, e aí se manteve até à edificação da nova igreja, concluída pelos finais do século XVI". Sobre esta Capela, o Professor publicou um artigo no Funchal Notícias subordinado ao título "A propósito do 6.º centenário do «descobrimento» e povoamento da Madeira: recuperar a memória: a Capela de São Paulo".
Capela das Babosas antes de 20 de Fevereiro de 2010
Foto Archais.
Logo a seguir, no percurso que habitualmente faço, está a Capela de Nossa Senhora da Piedade, sempre fechada! Por fora apresenta-se pintada, por dentro, confesso, desconheço o seu estado. Lembro-me, nos anos 70, de ainda ali se fazer a festa de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas. Estará fechada por degradação, por falta de pessoal que exerça a vigilância, uma vez que se encontra no espaço museológico das Cruzes? Não sei! 
Projecto da Capela das Babosas onde o governo
pretende "gastar" € 400.000,00!
Uma espécie de "Casinha de Santana"
Por uma razão especial, a primeira, é-me emblemática, pelo que dói vê-la ao abandono. Em síntese, o governo manda construir uma capela que, segundo li, data de 1906 e esquece-se de uma de meados do Século XV que deveria ser preservada no quadro do património cultural da Região. Com uma agravante, é que aquilo que designam por (re)construção, de acordo com a arquitectura vinda a público, é completamente diferente da anterior (ver fotos). Falo destas duas, porque as conheço, porém, quantas outras por essa Região, precisam de obras de recuperação e restauro onde todo aquele dinheiro seria bem-vindo?
Neste processo, a Diocese mantém-se caladinha. Do Bispo António Carrilho nem um pio relativamente às prioridades. A questão, portanto, parece-me assumir uma natureza POLÍTICA. O Monte está nas "bocas do mundo", pela morte de treze pessoas no fatídico dia 15 de Agosto de 2017, devido à queda de um carvalho. Desde então, o Monte tem sido um filão de combate político (por vezes, rasteiro) que, julgo eu, está para durar. Não há outra leitura possível, se considerarmos a História, a relevância patrimonial e o estabelecimento das prioridades em função das disponibilidades financeiras. E falam das comemorações dos 600 anos da Madeira? 
Mas é assim que alguns fazem política. Até com a morte brincam! Por isso, parabéns Senhor Padre José Luis Rodrigues pelo seu bom senso e frontalidade.
Ilustração: Google Imagens.

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