Depois de 45 anos, sobre Abril de 1974, está tudo dito. Glória aos que lutaram, foram perseguidos, presos, torturados e deportados. Glória aos que morreram, ficaram estropiados ou com sequelas pós traumáticas na estúpida guerra colonial. Glória aos nossos avós e pais que sofreram pela ideologia dominante e ausência de lucidez do Estado Novo.
Hoje, porém, deve preocupar-nos o presente e o futuro. É tempo de ficarmos apreensivos com todas as derivas aos princípios e valores que da Revolução emanaram, não no sentido da exclusão, mas do fortalecimento do que a todos nos une.
As ameaças são flagrantes, a Democracia, apesar de aparentemente consolidada, sofre com a ausência de líderes de confiança, de políticos impolutos e de qualidade, de uma Justiça para ricos e outra para pobres, o que tem feito espoletar desconfortos múltiplos e crescentes tendências populistas.
Abril está, sorrateiramente, atacado por muitos lados, por gente que deseja bloquear direitos constitucionais, privatizar uma grande parte das riquezas nacionais, olhar para a pobreza sob o prisma da caridade, a emigração como uma inevitabilidade dos novos tempos, as garantias da segurança social como espaço de enriquecimento do sector privado, a saúde como uma fonte de riqueza de grupos, a descontinuidade geográfica como um feudo de poucos e a educação
com uma atitude desresponsabilizadora, privatizadora
em total desacerto com o futuro.
Também avançámos muito, é certo. O crescimento das infraestruturas necessárias é inegável. Falta, porém, o investimento no ser humano, a reorganização da sociedade, uma política de família, trazer a História política à juventude, não apenas as datas, mas os contextos e as consequências, as nossas forças e fraquezas e, inevitavelmente, o respeito por quem trabalha, quando há quem deseje que o trabalho se prolongue até aos 69 ou mesmo 80 anos, como subtilmente sugeriu um ex-presidente da República. Nós que "importamos" tudo, da moda ao pensamento, que nos submetemos a tendências, cuidado, porque Jack Ma, o fundador da Alibaba (curiosa designação!) sugere que "trabalhar 12 horas por dia é uma bênção que os trabalhadores devem encarar como uma honra e não um fardo". Podem vir a caminho novos tempos de escravidão.
25 de Abril sempre, mas de olhos bem abertos, porque há gentinha ambiciosa, gananciosa, exploradora, que não se rala em dar cabo do planeta e que estão armados em donos da nossa vida, gente que é extremamente paciente e que sabe para onde caminha. Do outro lado, convenhamos, estão os românticos que acreditam na boa fé e que tudo irá dar certo. Tenhamos atenção que a deriva é tal que nada pode ser dado como adquirido.
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