O Professor Cavaco Silva, cada vez que sai da sua toca, denuncia uma gritante fragilidade na sua memória política, ao mesmo tempo que deixa passar uma imagem de uma pessoal com traços de algum ódio misturado com um preconceito ideológico. Nunca o admirei, ao contrário de outras figuras com as quais não concordei, mas que mantive respeito. Tem pouco de ideológico, mas de carácter. Dou um exemplo: admiro o Professor Adriano Moreira, independentemente de ser um democrata-cristão ou ter sido ministro no Estado Novo. É um Homem bom e de uma enorme sabedoria. O Professor Cavaco, esse não, transmite a ideia de uma ave sempre disponível para atacar de forma violenta. No seu discurso apresenta-se como estando acima de todos, aquele que prevê, que anuncia o futuro, normalmente de desgraça e quase pede que sigam as suas palavras, julga ele, de inspiração divina. Lembro-me, após a sétima avaliação da troika ter dito que "foi inspiração de Nossa Senhora de Fátima". Porém, este político, que diz não o ser, mas que por lá se arrastou mais de trinta anos, analisado à lupa, coitado, digo eu, não consegue se ver ao espelho.
Nos últimos dias levantou-se a questão das relações familiares entre membros do governo e não só. Isto já vai na GNR! Na Madeira, ui, ui... se começarem, a sério, a mexer na panelinha. Já começaram, aliás! Se, Cavaco Silva tivesse um passado limpinho sobre essa matéria, ainda seria entendível que o seu discurso fosse dirigido ao bom senso das lideranças partidárias. Porque há casos e casos. Existe, com toda a certeza, lugares ocupados por pessoas de enorme qualidade técnica e política, independentemente das ligações familiares (já vai nos primos) e outros que nem por isso. Cheira a arranjinho, o que me leva a crer, obviamente, na existência de uma rede de interesses pessoais.
Ora, mesmo colocando-se a questão de serem "lugares de confiança política", o bom senso afigura-se-me determinante aos olhos da opinião pública. Só que Cavaco Silva não tem moral alguma para falar deste tema. Apresenta-se preocupado com os "jobs for the boys" do Partido Socialista, todavia, o seu passado é negro nesta matéria. Leio no "Polígrafo": "Ora, se agora a Cavaco repugna-lhe os “jobs for the boys”, no tempo que governou não se opunha aos “jobs for the girls”. Na época cavaquista foi a eito a "nomeação de mulheres de ministros e de secretários de Estado para gabinetes governamentais e estruturas dependentes do Estado". Pergunta o jornalista: "Dias Loureiro, Fernando Nogueira, Marques Mendes, Arlindo Cunha... o que têm em comum estes ex-membros do Governo de Cavaco Silva? As respetivas mulheres foram nomeadas para cargos na estrutura do Executivo. Há mais "(...) "Ao todo, são 15 casos no governo Cavaco Silva - e só no seu gabinete foram dois. Mas o ex-primeiro-ministro não se recorda deles. Curiosamente, mais tarde, no livro que escreveu em 2017, classificou as situações deste tipo como "indecorosas".
O Professor Cavaco ainda não percebeu que saiu de Belém com um baixíssimo índice de popularidade, que continua em queda porque nunca soube ocupar o seu lugar com distanciamento e rigorosa independência, antes, como disse Pedro da Silva Pereira, comportou-se e comporta-se como um árbitro "que beneficia a equipa da sua preferência".
Ilustração: Polígrafo e Google Imagens.
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