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sábado, 13 de abril de 2019

Será que Joe Berardo está mesmo em queda?


Custa-me, muito, aceitar que, alegadamente, fui enganado. Ou melhor, fui enganado por diversas pessoas e instituições. Pelo visado até aos bancos que lhe abriram portas sem garantias. Falei com Joe Berardo duas ou três vezes, a última das quais, demoradamente, na última exposição de Arte Deco que teve lugar no Centro das Artes - Casa das Mudas. Conheço, sumariamente, o seu percurso, através dos trabalhos apresentados sobretudo pela televisão. Já visitei alguns dos seus espaços mais emblemáticos e notáveis e sempre me maravilhei com as obras expostas. Perante toda a história, a conhecida, interrogo-me, como foi possível chegar a este ponto da Caixa Geral de Depósitos, Novo Banco e BCP andarem, agora, atrás da sua "fortuna" para cobrir o que lhe foi emprestado, diz a comunicação social, sem terem sido acauteladas as devidas garantias?


Escreveu o Jornalista Daniel Oliveira no Expresso: 

"Joe Berardo é uma espécie de Ricardo Salgado do Atlântico. Foi sempre um homem encantador a quem ninguém conseguia dizer que não. Íntimo de políticos e banqueiros, era unha com carne com jornalistas. Fizeram-lhe perfis extraordinários. Um “self made man” alimenta os sonhos de quem julga que um dia lá pode chegar. E os sonhos não se estragam com perguntas. Mesmo quando se meteu em problemas – e meteu-se imensas vezes em problemas –, isso apareceu sempre como excessos naturais de um homem intenso e “polémico".
Até ao dia em que o madeirense que subiu a pulso se transformou, aos olhos de todos, num simples aldrabão. Não se pode dizer que ele tenha tentado passar pelo que não era. Mas ninguém o tinha visto. Como poderiam ver? Estamos a falar de um comendador, valha-me Deus. Foi o impoluto (mesmo) general Ramalho Eanes que lhe ofereceu a medalhinha que acabaria por se transformar no seu primeiro nome. Foi Jorge Sampaio que subiu a parada e o elevou à Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. E, como quando é para ser em grande tem de ser à francesa, foi Jacques Chirac que lhe deu a mais alta condecoração de França. Dava gosto ver um homem simples, que só tem uma garagem no Funchal, chegar tão alto na hierarquia das honrarias de Estado.
Nos bancos, não era tratado como qualquer cliente. Joe Berardo era Joe Berardo. Um homem que parecia um vigarista, cheirava a vigarista, falava como um vigarista mas era um comendador. Até ao dia em que alguém deixou de bancar. Foi aí que o país inteiro se indignou. Passou de comendador a bandido. (...)"

Chegou a ser o 5º mais rico de Portugal, com uma fortuna avaliada em 890 milhões de euros, mas deve cerca de mil milhões. Ora bem, o senhor Berardo, obviamente, é o visado desta história, mas outros são cúmplices da sua ascensão e queda. Refiro-me às instituições bancárias e seus líderes que permitiram empréstimos sem acautelar a defesa dos mesmos. O paradoxo disto é que a qualquer cidadão que vá a um banco com o objectivo de "comprar" dinheiro (empréstimo), para uma habitação, por exemplo, a sua vida é "radiografada" de uma ponta à outra, tem de apresentar garantias, fiadores de confiança, está meses à espera da decisão, depois tem uma catrefada de papéis com letras muito miudinhas para assinar, paga juros que equivalem, no final, quase a duas habitações e para certas pessoas, estendem-lhe a passadeira vermelha, transferem o "pastel" e as instituições ficam a apitar. Pagam os contribuintes... sabe-se que tem sido assim. Mas onde está, então, a responsabilidade de quem cedeu o dinheiro? Qual a sua responsabilidade criminal? E o senhor Berardo será que estará "liso", apenas tem uma "garagem" ou o dinheiro andará algures? 
E existe uma outra história que se compagina com esta: a da Chancelaria das Ordens Honoríficas Portuguesas". Atribuem-se graus, o de Comendador, por exemplo, e a Ordem disto ou daquilo sem uma exaustiva análise às individualidades? Pois, percebo, mais tarde, uns têm de devolvê-las ou porque foram presos ou qualquer outro motivo. Que se esclareça tudo isto. No fundo, o que, sinceramente, gostaria é que o senhor Joe Berardo pagasse tudo o que deve e que todo o património cultural continuasse por aí para que o possamos desfrutar na plenitude.
Entretanto, ouçamos a "Valsinha das Medalhas" cantada por Rui Veloso:
"(...)
Quem és tu, de onde vens?
Conta-nos lá os teus feitos
Que eu nunca vi pátria assim
Pequena e com tantos peitos
(...)"
Ilustração: Google Imagens.

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