FACTO
Disse o Senhor presidente do governo regional da Madeira: "A tecnologia é a salvação da humanidade".
COMENTÁRIO
Não vou entrar pelo domínio das convicções religiosas, no que concerne à "salvação". Apenas quero situar-me na frase para dizer, logo à partida, que a humanidade não se "salvará" através do desenvolvimento tecnológico. As tecnologias constituem, apenas, importantes instrumentos ao serviço do Homem. Mas não é através delas que o Homem, vivendo em qualquer dos Continentes, caminhará no sentido do bem-estar e da felicidade.
Dispor de um telemóvel, de um computador, de redes inter-planetárias ou de robôs, entre tantas ferramentas, não traz, implicitamente, no seu bojo, a tal "salvação da humanidade". No contexto político e do desenvolvimento, a tecnologia, que a todos nos aproximou e permitiu importantíssimas descobertas em variadíssimos sectores, simultaneamente, veio ditar que o Mundo precisa de uma nova ordem. Não é a tecnologia que irá contrariar os dados estatísticos que nos dizem que "os 26 mais ricos têm tanto dinheiro quanto a metade mais pobre da população mundial" e que de acordo com a Oxfam, ao longo de 2018, a riqueza dos mais ricos aumentou 12%, mas a dos mais pobres caiu 11%, alargando o fosso entre ricos e pobres". Não é a tecnologia que erradicará a pobreza, a ganância e a ambição de querer mais e mais. Não é a tecnologia que limitará o desejo de guerra, a conquista, o espezinhamento dos fortes sobre os mais fracos. Não é a tecnologia que impedirá actos de corrupção à escala internacional. Bem pelo contrário. Não é a tecnologia que afastará os homens da frustração e das depressões. Não é a tecnologia que irá esbater ou acabar com 100.000 exames, cirurgias e consultas em espera na Madeira (fonte: manchete do DN-Madeira de hoje). Não é a tecnologia que travará os 27,4% de pobres da Região. Podia ir por aí fora, com números locais, nacionais e internacionais em todos os sectores,áreas e domínios do desenvolvimento.
A "salvação da humanidade" está então nessa nova ordem mundial, a qual, convicto estou, ser de solução muito difícil. A chave pode ser complexa, é certo, mas a utopia deve-nos acompanhar, enquanto processo, enquanto caminho a seguir. E o Senhor presidente deveria saber isso. Que a tecnologia corresponde ao natural desenvolvimento da ciência, repito, com expressão em tantos domínios, mas que tem sido aproveitada, não para a "salvação", isto é, para a existência de novos equilíbrios, mas para que "1% da população domine 80% da riqueza mundial" (fonte: Observador - relatório de 2017).
Ilustração: DN-Madeira
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