Estou convencido que até os mais acérrimos partidários começam a ficar politicamente cansados do estilo (interpretação pessoal e de grupo do exercício da política), onde sobrevém uma atitude violenta transmitida através das palavras e até nos actos. No palco político emergem, todos os dias, actores que falam como se os madeirenses fossem todos mentecaptos, dissertam em nome dos madeirenses como se representassem o pensamento de todos, quando, no fundo, podem e devem ser a voz, quanto muito, de uma parte dos eleitores. É que, se tempos houve de maiorias absolutíssimas, hoje, já não é assim e, para governar, tornou-se necessária uma coligação. Isto significa que os responsáveis políticos, no mínimo, deveriam colocar em dúvida a eficácia do formato da mensagem.
Parecem crianças birrentas... |
Enquanto português, nascido na Região Autónoma da Madeira, autonomista convicto, não aceito que na dialéctica política sejam aplicadas palavras, entre muitas outras, como "traidores", "rancor", "ódio", quando, alguns, se referem à República. Ainda ontem um deputado vociferou: "dão com uma mão e roubam com a outra", aquando de "uma referência ao facto da Madeira ter de pagar, já em Julho, 48 milhões de uma parcela do PAEF, dos quais 18 milhões são juros" (Dnotícias). Ora, quem gerou uma gigantesca dívida (inicialmente superior a seis mil milhões de Euros, escondeu facturas e gerou consequências no défice nacional) que o governo de Passos Coelho considerou "insustentável", obviamente que não foi a República (governos socialistas e social-democratas), mas quem governou a Região. Portanto, se houve necessidade de um Plano de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF), a alguém se deve, e não obstante isso, todos os compromissos rubricados devem de ser escrupulosamente cumpridos. É um princípio que vale para cada cidadão tal como no quadro das responsabilidades governativas. E a este propósito li, em manchete, (JM): "Madeira paga 18 milhões de juros a Lisboa", sem uma explicação plausível das causas que subjazem. Tudo isto, parece-me, uma sinfonia bem orquestrada, no sentido de generalizar a ideia e a clivagem entre os "bons" e os "maus". Não entendo.
Já não há pachorra para isto, tal a repetição da receita que, se ontem fez algum sucesso, hoje, é fonte de algum escárnio. Já poucos levam a sério e mesmos esses com reticências. É evidente que a Região desfruta (ainda bem) da dignidade constitucional de Região Autónoma, mas não se pode esquecer que a Região constitui, apenas, 2,5% da população do País. Os madeirenses não podem ser, em circunstância alguma, uns "coitadinhos adjacentes", mas também não podem arvorar-se como o centro das preocupações nacionais. Nem os madeirenses nem os açorianos. Há que ter bom senso e respeito, subordinando tudo ao dever da negociação séria e distante de "distúrbios intestinais".
Ora bem, menos guerra de palavras, menos folclore político, nada de ofensas que só trazem dificuldades na negociação, porque, neste momento, quem governa deve é estar preocupado com o sistema empresarial que soçobra (sinto o drama dos empresários), com o desemprego, com a fome e com a miséria. A região, na sequência do COVID-19, ainda anda anestesiada, mas tudo leva a crer que tempos difíceis virão, de falências, de incumprimento de responsabilidades assumidas e todo o rol de consequências sociais. Mais do que nunca os governos devem concertar esforços sem gritarias histéricas. Que se negoceie, com frontalidade, credibilidade, rigor e que se corte onde não é necessário e prioritário gastar. Basta de discursos truculentos e dessa cantada historieta, a Madeira, a Madeira, a Madeira, e entrem no espaço da negociação onde todos ficarão a ganhar. Irra, parecem crianças birrentas!
Ilustração: Google Imagens.
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