Aprendi muito cedo a interpretar o significado de "em boca calada não entra mosca". E, mais tarde, com Mestres do conhecimento, que só se deve ter uma opinião e discuti-la, quando antes se faz um esforço de estudo de toda a problemática. Por este caminho, sim, fugimos à "conversa de café" e situamos-nos no patamar da credibilidade. Falar pela rama e de assuntos que não se domina, não chega a ser "conversa de café", mas tão-só conversa de treta.
Ter opinião obriga, por isso, a trabalhar os temas, ouvir pessoas, ler livros, revistas e integrar pensamentos diversos, cruzando-os. Se esta não for a postura, a consequência, natural, é a de ficarem colados à imagem do sujeito de feira ou da "banha da cobra". Poucos, eu diria, raros, o levarão sério. Infelizmente, vejo de tudo, desde comentadores de estilo universal, os que tanto falam ou escrevem sobre o intestino da minhoca até, sei lá, engenharia aeroespacial; desde políticos para todo o serviço, pois o que interessa não é, certamente, o que sabem, mas o lugar que ocupam, até, sei lá, assuntos do desporto. Dominam tudo, enrolando-se nas palavras escutadas em qualquer sítio e nos discursos mais ou menos fluentes. Quem estiver atento e conhecedor do sector, área ou domínio em abordagem, topa as monumentais fragilidades que apresentam.
Mas é assim que a engrenagem está montada. Não interessa a qualidade e profundidade depositada nos assuntos, antes a sua imagem no quadro do que habitualmente se diz: "não interessa que falem mal de mim, mas que falem".
Porque a imagem do autor fica e as palavras leva-as o vento!
Pior, ainda, quando, com esperteza saloia, surfam na ignorância das plateias. Se eu nada sei sobre, por exemplo, o sistema de saúde, o sistema empresarial ou o sistema fiscal, como poderei facultar uma opinião abalizada, eu diria, credível? Não me parece sensato. Em uma roda de amigos é absolutamente natural que se divague e que se troquem opiniões; porém, quando nos expomos ao público, "alto e pare o baile", a conversa é outra! Tem de existir responsabilidade e credibilidade no que se diz. Porque o acto da escrita ou o do comentário não podem ser nivelados por baixo.
Passado meio século sobre a publicação do livro de Laurence Peter (1969), "O Princípio de Peter" nunca foi tão sensível e aplicável como nos dias que vivemos. Ele definiu-o, no quadro da Teoria Estruturalista, como o princípio da incompetência, facilmente adaptável, digo eu, a todas as circunstâncias: "(...) todos tendem a ser "promovidos" até ao seu nível de incompetência". E aqui chegados (a promoção tem muitos formatos e acessibilidades), sem noção do ridículo do que escrevem ou dizem, continuam a querer atingir um novo patamar, mesmo que lhes falte competência para tal. Por isso, não leio, mudo de estação ou de canal, quando sou confrontado com banalidades ditas com um ar assertivo e tonalidades de voz de uma cátedra que não têm. Simplesmente porque gosto de ler ou de ouvir pessoas com quem aprenda ou me desperte a possibilidade de uma reflexão. Só por isso. Mais, porque tenho consciência, apesar de estudar, que mesmo dentro da minha área de conhecimento, tenho muitas lacunas.
Ilustração: Google Imagens.
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