A Professora Conceição Pereira faleceu. Esta triste notícia foi muito comentada. De alguns quadrantes surgiram os elogios à figura que marcou, politicamente, todos estes anos de democracia e Autonomia. Porém, genericamente, assisti a um silêncio de pessoas e instituições políticas que, pelo menos na morte e sem hipocrisias, tinham o dever de se curvar perante quem, como poucos, por convicção, lutou na defesa de princípios e valores humanistas e civilizacionais. Uma coisa é discordar, mesmo que profundamente, das suas posições; outra, é ter consciência que a Democracia se constrói e se fortalece com os contributos de todos. E Conceição Pereira foi, indiscutivelmente, uma lutadora credível. Guiou a sua vida em função da sua própria experiência, percebendo, desde muito cedo, através da leitura da conjugação de múltiplos sinais, que o percurso político para a felicidade dos outros, não era juntar-se aos que falam da solidariedade, mas que não a praticam. A sua fortuna foi a da credibilidade e a do amor.
Compreendo que é muito fácil estar do lado do poder; muito mais difícil é posicionar-se ao lado dos mais frágeis, junto das imensas margens; fácil é ignorar a História e sentar-se à mesa dos interesses; muito mais difícil é nascer com valores, sofrer e lutar em um tempo de ditadura. Por isso, não estranho, mas entristecem-me certos silêncios. Está enraizado na mentalidade política de alguns partidários. Não estranho, até porque já assisti, tem já uns anos, na Assembleia, ao chumbo de um voto de pesar. Nem na morte existe tolerância!
E não estranho, também, certos comportamentos, quando, no quadro político, o combate ideológico bastas vezes é contra as pessoas e não pelas propostas que transportam e apresentam. Infelizmente, subsistem traços de alguma raiva, rancor e ira contra quem se atravesse no caminho, quem diga "não vou por aí", quem, teimosamente, analise o outro lado das situações, quem denuncie e quem diga aos "reizinhos" que há gravíssimas assimetrias e que há fome de muitas coisas!
Mas, curiosamente, registo que brotam do Povo as vozes da solidariedade pelo passamento de figuras que deixam exemplos de humildade e de luta pela felicidade dos outros. Recentemente, foi com o Padre Mário Tavares e agora com a Professora Conceição Pereira. Li tantos comentários de sentidas condolências que acabam por testemunhar o agradecimento pela vida de doação à causa dos outros.
Nutria por ambos consideração e estima. A Democracia deve-lhes. A construção da Autonomia também. Esconder os que lutam não credibiliza nem uma nem a outra. Logo que tenham um vagar lembrem-se deles, embora preferisse que tal acontecesse em vida.
Ilustração: Google Imagens.
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