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sábado, 25 de julho de 2020

Assembleia Legislativa no precipício


Sinto um enorme desencanto pela Assembleia Legislativa da Madeira. Desde há muitos anos, sucessivamente, tem vindo a registar-se uma significativa quebra de qualidade. Por ali passaram figuras de proa, de todos os quadrantes políticos, que me encantavam pelos traços de oratória, pelo conhecimento, pela ironia, pela sua adultez política e pela capacidade discursiva que deixavam algo original e até, em alguns casos, memorável. Mas isso foi-se perdendo, esboroou-se, por razões múltiplas. Talvez tivesse sido essa a intenção para que um outro poder, o executivo, pudesse "brilhar". Certo é que, de legislatura em legislatura piora o registo do seu funcionamento. Porque há uma política que fez escola!


Mesmo que visivelmente errado aquilo entrou em um modo de desempenho rotineiro, previsível, bastas vezes ofensivo, com uma postura discursiva onde emergem vícios nas abordagens, estudo insuficiente dos vários dossiers, por vezes em um blá, blá histérico, arruaceiro e maldoso. Ainda anteontem escutei, pela rádio, um deputado da primeira fila que me meteu dó. O problema é que, depois, essa postura é transferida para os debates na televisão e na rádio, dando ao povo uma imagem desprestigiante do primeiro órgão de governo próprio.

Mas há, no meio daquilo, gente que sabe estar, que não sendo eloquente, traz consigo o conhecimento, a serenidade comportamental, uma paciência superior à da personagem bíblica de Jó. Há ali pessoas de reconhecido mérito social e profissional, que não precisam daquilo para nada, mas porque perseguem convicções e entendem exercer o salutar contraditório político. Gente que não se deixa ir na gritaria e nos abundantes tiques rasteiros. Gente que, apesar da sua postura, é claramente abafada pela estridente estratégia que esquece o discurso de ontem e aprova o interesse de hoje. Também porque há quem mude de discurso como de camisa!

Em alguns momentos, o que mais me impressiona é o tom de voz de algumas "personalidades", por vezes o ar furioso que apresentam ou o semblante que transmite uma ridícula superioridade (!) na tentativa de amesquinhar quem tem uma posição distintiva. É evidente que um parlamento não é propriamente uma formação de meninos de coro. O calor do debate pode fazer ultrapassar a linha vermelha. Mas há muita gente desafinada com os princípios e valores que deveriam nortear o debate das ideias sem descer ao patamar da indecência.

Seria bom para a vivência democrática uma tomada de consciência dos actos degradantes. Todos ganhariam. Ganhariam os madeirenses e portosantenses e, creio, ajudaria a não afastar os eleitores dos sufrágios. 

Ilustração: Google Imagens.

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