Não é a primeira vez que tal me acontece. Em conversas com empresários, de uma forma recorrente, vem sempre a história, por um lado, da "falta de mão-de-obra", por outro, a necessidade de profissionais "qualificados" que dêem garantias mínimas. Tantas vezes isto me acontece que dou comigo a reflectir sobre aqueles a quem recorro para resolver pequenas situações de manutenção pelo desgaste próprio do tempo. Tenho dificuldade, confesso. E eu não sou um picuinhas que implique com miudezas.
Conheci um marceneiro/carpinteiro, infelizmente falecido, que dava prazer falar e combinar uma obra. O Mestre Emílio sabia de madeiras e do mais adequado para cada trabalho. Tudo era feito com perfeição. Um dia, ele já nos 80 anos e com o seu ajudante que andava pelos 70, a quem tratava pelo "rapaz", ouvi-o dizer: "oh rapaz, eu de uma cana vieira faço uma telefonia". Assim exprimia o seu conhecimento, criatividade e segurança no que fazia. Hoje, é-me difícil encontrar uma competência mínima. Outra. Tem pouco tempo, entrei em uma loja de plantas e questionei a empregada: "minha senhora, esta planta é mais de interior ou exterior?" Resposta célere: "dá para dentro e dá para fora". Fiquei na mesma. Apresentei-lhe outro vaso com outra espécie e a resposta veio rápida: "dá para dentro e dá para fora". Azar meu, pensei, pois eu queria só para dentro! Isto explica ou pode explicar a ausência de um conhecimento mínimo ao qual se junta a capacidade de saber fazer e de saber atender.
Regresso aos empresários que se queixam pela falta de mão-de-obra e competência. Há qualquer coisa aqui que não bate certo, desde a formação escolar e profissional ao interesse em trabalhar em estabilidade e sem defraudar as receitas públicas. Sobre a primeira, se a qualificação não é a melhor, pode-se concluir que, salvo alguns casos, o espaço da formação escolar e profissional merece uma séria e ponderada reflexão. Deixo isto de parte, fica para uma outra oportunidade, e situo-me, apenas, no caso dos que, pressuponho, querem um emprego mas não desejam trabalhar. E alguns empresários dizem-me exactamente isso, que não é apenas a incompetência que está em causa, mas também a ausência de controlo, pois o direito a um qualquer subsídio não deveria criar as condições de fuga ao trabalho regular, com direitos e deveres, concedendo espaço ao biscate não facturado. Um deles confidenciou-me que propôs, a um dado sujeito, a sua contratação. Respondeu-lhe: não estou interessado, porque assim a minha mulher perde o "rendimento social de inserção". Ora ela trabalha a dias e ele, está quieto, porque o biscate é mais vantajoso. Quanto ao futuro, logo se verá!
Obviamente que nem todos funcionam da mesma maneira. Não tenho factos que provem uma generalizada desonestidade. Por outro lado, entendo que os mais vulneráveis devem ver a sua vida acompanhada e protegida pela Segurança Social. A fome não pode esperar pelo dia seguinte. E as crianças e os mais idosos devem ter protecção absoluta. Para mim isso é inquestionável. Outra coisa é, na força da vida, procurar expedientes e desistir de objectivos. E isso educa-se!
E assim, vou ao supermercado (e não só) e tropeço em inúmeros luso-descendentes. Todos devem ser acolhidos, logicamente que sim, mas questiono-me por onde andarão os aqui nascidos e inscritos no Instituto de Emprego (18.000!)? E os 44.000 em layoff estarão todos nessa situação?
Disto nada sei, apenas constato. Mas merece estudo e debate político.
Ilustração: Google Imagens.
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