Apesar de não conhecê-lo no plano pessoal, o Cónego Manuel Martins, em 2009/2010, por aí, granjeou a minha simpatia por algumas homilias na Sé Catedral do Funchal. Deixou-me bem impressionado, pela acutilância das palavras ditas aos crentes. Lembro-me quando se dirigiu "aos governantes incompetentes e bispos sonolentos"; quando se insurgiu contra "(...) o parlamento regional que recusou medidas de combate à pobreza" (...) quando sublinhou "conhecer a falsidade de tantas medidas anunciadas de combate à pobreza e situações de miséria e de fome de tantas famílias (...); quando em uma dada homilia, falou da existência de casos sociais que precisam de ajuda por causa do "desemprego, alcoolismo, droga" e de "famílias jovens que não podem pagar o crédito à habitação" ou o "pão para os filhos"; quando disse que "há situações dramáticas de injustiças sociais gritantes que causam tanta indignação que muitas vezes levam-nos à revolta"; recordo-me, ainda, da sua denúncia: "conheço pessoalmente situações de pobreza extrema e de fome". Teve coragem, reconheço.
Eu diria que passados onze anos, as situações permanecem. Foi Padre porque, contextualizando, enalteceu a Palavra de Cristo e puxou as orelhas a quem tem o dever de pugnar pela solução das graves assimetrias sociais. Na altura, repito, fiquei bem impressionado. Sinceramente, nunca percebi (ou se calhar percebi) a razão pela qual, permitam-me a expressão, foi despachado da Sé para Machico.
Pelas suas posições independentes de qualquer partido, sem o conhecer, fiquei atento. Daí para cá senti que se remeteu a uma posição muito discreta. No mínimo, não tem sido motivo de atenção dos media. Até que, na última semana, a propósito da candidatura dos “Fachos de Machico” às “7 Maravilhas da Cultura Popular”, o Senhor Cónego Manuel Martins resolveu puxar dos galões (!) e reivindicar que os “fachos” pertencem, secularmente, à Igreja e não ao município. Uma polémica sem qualquer sentido, quando não está em causa a “paternidade”, mas uma candidatura que dará visibilidade cultural à cidade de Machico, com efeitos positivos a vários níveis. Até para a própria Igreja.
Portanto, Senhor Cónego, com todo o respeito, mas com algum humor, (precisamos de uma pitada de humor na vida) na esteira do “provedor” Herman José, apenas lhe digo que “não havia necessidade”. De facto, nestas circunstâncias, como salientou o Presidente da Câmara, os "fachos" dispensam “senhorio”. Somos poucos para potenciar a imagem da Região e, particularmente, a de Machico.
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