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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

POBREZA




FACTO

"Em 2020, na Região Autónoma da Madeira, a taxa de risco de pobreza ou exclusão social foi de 32,9%, o que constitui um aumento 0,7% p.p. face a 2019. A RAM foi a região do país com valor mais elevado, seguida da RAA (32,4%). A média nacional é de 19,8%" - Direcção Regional de Estatística da Madeira, na sua mais recente publicação, esta Sexta-feira.

COMENTÁRIO

Preocupante. Muito preocupante. Não apenas o crescimento da pobreza, o que é grave, mas o facto das eventuais políticas não se mostrarem eficazes quanto à sua redução percentual. Este estudo deveria exigir uma reformulação imediata das políticas educativas e sociais.
Assisti, já tem uns anos (28.10.2010), a uma importante conferência do Dr. Alfredo Bruto da Costa (já falecido), figura então muito prestigiada no plano internacional sobre estudos no quadro da pobreza. Lembro-me de ter referido, segundo os seus estudos, uma percentagem que rondava os 30% de pobres. Apontou a verdade nua e crua dos números, sublinhando que, ao tempo, no último estudo nacional, entre 1995 e 2000, nesse intervalo de seis anos, 80% dos madeirenses tinham passado por dois ou mais anos por uma situação de pobreza e que 30% viviam em pobreza persistente.
Entretanto, passaram-se mais dez anos e o problema persiste. E se com ele nos confrontamos é porque ele é um problema de natureza política. Após essa conferência, no meu blogue "comqueentao" escrevi: "(...) E como foi sublinhado pelo orador, "a causa da pobreza não está nos pobres", está nas mudanças sociais que são de natureza política. "Tudo o que seja combate à pobreza mantendo o padrão da desigualdade" não tem sentido, pois apenas a mantém uma parte da consciência tranquila. Mais, ainda, a solução não está na CARIDADE. É uma palavra que não gosto. Respeito e muita consideração nutro pelas mais diversas instituições que combatem a pobreza, de dia e de noite, respeito o notável trabalho das paróquias que matam a fome e esbatem casos muito sérios de carências várias, mas entendo também que não é pela via da caridade que os problemas se resolvem. É pela via política, com deliberações que "dêem o peixe mas também a cana", em simultâneo, como ontem salientou o Professor Alfredo Bruto da Costa. A "caridade" deve ser o fim da linha, o ataque às margens, para quem mergulhou tão fundo que experimenta dificuldades em se erguer. A caridade não resolve, a prazo, problema algum, apenas se destina a esbater os erros dos políticos. O governo tem de se convencer que a "armadilha da pobreza é a armadilha das desigualdades" e, portanto, na esteira do que disse o Professor, não se pode cair no círculo vicioso de que "os pobres são pobres porque são pobres", antes "os pobres são pobres porque os ricos são ricos".
Hoje, por razões pessoais, porque sou feliz, aqueles 32,9% deixam-me de coração apertado.

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