FACTO
"Isto é tudo aquela política ressabiada" (...) "não tenho inveja que alguém receba mais do que eu". Excertos de declarações do presidente do governo regional a propósito dos salários e complementos auferidos pelos gestores públicos.
COMENTÁRIO
Eu também. Faço minhas as palavras da liturgia popular de outros tempos, onde "nos campos do Alentejo, bem como nas suas vilas e aldeias, a amassadura e a cozedura do pão eram acompanhados de um certo ritual. Assim, ao deitar-se o sal na água da amassadura, dizia-se: Deus lhe acrescente" (Hernâni Matos).
Só que o problema não é esse. Não é de "inveja", tampouco de um qualquer "ressabiamento". O problema é de equilíbrio, bom-senso e rigor na atribuição e distribuição dos recursos públicos. O drama está quando se comparam funções e responsabilidades; quando se dá conta que, raramente, são os melhores que exercem tais funções, dando lugar aos oriundos de cumplicidades político-partidárias; quando verificamos que as empresas funcionam, na generalidade, com sistemáticas injecções de capital provenientes do orçamento regional; e quando fica o sentimento de impunidade perante o fracasso gestionário.
O problema não está, sequer, em nivelar por baixo, porque a competência paga-se, mas quando se analisa e buscamos as relações entre umas funções e outras, em conjugação com a realidade no interior da sociedade. Em uma região pobre, dependente e assimétrica, sendo os recursos financeiros escassos, onde um em cada três madeirenses é pobre ou está em risco de pobreza, obviamente que devem redobrar as preocupações com as prioridades estruturais. É preciso ter presente, entre outros factores, que 32,9% dos habitantes está em situação muito complexa, a taxa mais alta do país, segundo o "Inquérito às Condições de Vida e Rendimento" (ICOR), da responsabilidade do Instituto Nacional de Estatística. E é preciso ter presente, ainda, que mais de 20.000 madeirenses não têm emprego e que muitos milhares não usufruem do subsídio social de desemprego.
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