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sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Desilusão

 

Invade-me uma infinita desilusão. Sei contê-la, mas ela está lá em todos os passos, todos os olhares e em todos os diálogos que vou mantendo. Quando cerro os olhos e passo em revista o dia, sinto a infindável beleza do mundo em contraponto com a progressiva falência do ser humano; sinto a nossa imensurável capacidade de inteligência que soçobra perante o que os irracionais, por norma, não fazem aos seus; examino o bem e o mal, os direitos e os deveres, a verdade e a mentira, a salutar ambição face à ganância que tudo subverte; a interpretação e o respeito pelas religiões em contraponto com os actos fundamentalistas que vão contra o amor, a tolerância, a fraternidade entre os povos e a irmandade entre as nações. E para quê, questiono-me. 



Daí a desilusão face a um Mundo que acelera nas correntes da desgraça, jamais contra a infelicidade e a miséria. Vive-se na constante elaboração sofisticada da mentira, da desonestidade, da exploração de uma vida vazia e doentia para milhões, da permanente ilusão dos sonhos, enfim, vive-se numa atmosfera de escuridão consentida.

Por todo o lado, de diversas maneiras, mata-se de forma selvagem inocentes, enquanto os senhores se passeiam nos labirintos do poder, na rede de túneis à superfície, sem colete, mas protegidos até aos dentes. Vivem, sem pingo de compaixão, dos acordos pelas proximidades ideológicas que dividem o mundo entre bons e maus. Uma desilusão, quanto tudo podia ser sereno e diplomaticamente conducente à paz. Para quê? - perguntará a maioria. Quando tudo acaba em quatro tábuas!  

Já poucos respeitam a Organização das Nações Unidas (ONU), o Papa Francisco, por mais que apele, é uma voz inaudível, a União Europeia é uma crescente fantasia ou uma "passerelle" de gente enfeitada mas distante da credibilidade necessária aos novos tempos. Quase definem as regras do papel higiénico, mas esquecem-se do sofrimento que não é legislável! Nada sabem de pobreza. E o que dizer do Banco Central Europeu que também mata sem matar, com juros absolutamente pornográficos e que, com uma distinta lata, uma senhora, ornamentada de "Chanel", ainda ontem, com total desdém, dizia que tudo isto era para continuar, sublinhando e perguntando com uma tez arrogante e nariz aquilino: "ok?"! Como quem diz, portem-se bem, senão cá estarei para o correctivo. Importante é manter a corja sossegada, iludida com uns apoios e que tudo é feito para seu bem. E, entretanto, outra crise será fabricada para gáudio dos que manipulam as marionetas.

Sejamos claros, intencionalmente, os mandantes matam sem um único tiro. Parecem dar com uma mão, mas logo retiram com a outra, vangloriam-se das taxas que exprimem quase pleno emprego, mas ignoram que milhares, milhões, trabalham e vivem num quadro de pobreza descarada ou envergonhada. Ao mesmo tempo, sem pingo de vergonha, o próprio Estado, as grandes distribuidoras e a banca sugam até ao tutano apresentando lucros obscenos. O que fazer? - pergunto. A nossa impotência é flagrante por maior que seja a sensatez e os gritos escutados. Somos reféns da teia pacientemente criada e consentida. Por agora, apenas desilusão. 

Ilustração: Google Imagens.

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