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quinta-feira, 2 de julho de 2009

DAS 25 FONTES AOS MOINHOS DE ÁGUA

Gosto de viajar. Quem não gosta! Não o faço com a frequência que desejaria mas, uma vez por ano, não prescindo de definir um local e a partir daí, num raio de 200 quilómetros meter os olhos em tudo o que de importante existe. Interessa-me o património, os centros históricos, os cantos e recantos das grandes cidades até aos sítios mais recônditos onde se descobrem preciosidades. Desde a monumentalidade que nos enche até à mais respeitada e protegida obra que a marca a História do Homem. Em quinze dias normalmente percorro entre quatro a seis mil quilómetros. É um dos melhores momentos da vida. Pena tenho que tal não seja possível à maioria das pessoas.
Ainda ontem, através de uma estação de rádio, numa aldeia recôndita de Portugal, vários idosos diziam ao repórter que nunca tinham ido a Lisboa e, à pergunta, como pensa que Lisboa é, a resposta veio célere: não sei, nunca lá fui! Dei comigo a pensar na felicidade de outros, na minha felicidade, de conhecer e apreciar alguma coisa. Já aqui escrevi, em tempos, uma passagem curiosa de Jorge de Sena, numa entrevista à BBC, citada por Leonel Cosme, in Os Portugueses - Portugal a Descoberto: "os portugueses deviam ser obrigados a viajar para fora das fronteiras nacionais. Não para chegarem a Paris ou a Bruxelas e aí se comprazerem numa tasca tipicamente portuguesa ouvindo fados e comendo sardinhas assadas. Mas para verem como era a Europa além fronteiras e adquirirem assim a consciência real do povo que eram (...)". Não posso estar mais de acordo. Irrita-me mas, obviamente, não comento, quando oiço que foram aqui e ali, comeram no restaurante x e y, divertiram-se à grande e à francesa e quando se pergunta se visitaram isto ou aquilo, esta catedral ou aquele museu, a resposta é não. Somos assim, o que fazer! Mas, alto, há muita gente na nossa terra que tem o gosto da viagem, o gosto da aprendizagem e o gosto da comparação. Tenho aprendido com muitos, fico a ouvi-los, e quase obrigado a meter em fila de espera cidades e locais a não perder. Pela originalidade e pela marca da diferença. Ainda ontem, no canal Travel, acompanhei um trabalho sobre Saragoça, aqui mesmo ao lado, a pouco mais de duzentos quilómetros de Barcelona. Não conheço mas sei, pelas imagens, que é um espanto. Ficou na lista.
Ora bem, mas tudo isto a propósito do teleférico do Rabaçal e dos Moinhos de Água da Fajã da Ovelha que foram destruídos por causa de uma estrada. Desviei-me do essencial porque senti essa necessidade. A questão do Rabaçal é uma questão de cultura, de sensibilidade e de capacidade para perceber que a oferta turística não se compadece de intervenções abusivas.
A propósito, escutei o Dr. Raimundo Quintal e o Engº João Correia, Director Regional de Ambiente, num debate incluído no Telejornal. Para mim foi muito evidente o sério embaraço do Director Regional às perguntas do jornalista, como que a dizer aos espectadores... eu não acredito naquela obra mas não posso dizer! O seu semblante e a pouca convicção demonstraram precisamente isso. Ora, quando milhares de pessoas, da Região e sobretudo fora dela, defendem aquele quase santuário da natureza, lindíssimo para ser percorrido serena e contemplativamente, vem o homem, o político, a força do dinheiro, a conta bancária, falar mais alto e determinar que ali tem de acontecer "obra".
Por diversas vezes, com os meus alunos, percorri aquele espaço, no meio de silêncios entrecortados com o som dos passos, das aves, da brisa e das leituras sobre a Laurissilva. Um dia levei comigo uma Colega Bióloga. Soberbo. Querem, agora, "sujar" essa paisagem de sonho. Apenas vão retirar o prazer da caminhada e destruir aquilo que nos deve identificar pela diferença e não pelas "modernices". Mas é assim. Também ali para os lados da Fajã da Ovelha, a construção da Via Expresso, levou dois moinhos de água. Nem sabem onde foram parar as pedras. Tenho passado por locais onde se paga e muito para ver pequenos fragmentos da História. Por aqui abandona-se, deixa-se degradar, não se recupera, permite-se o desaparecimento das pedras e, depois, sem valor histórico, coloca-se uma memória no parque temático de Santana e ficam todos felizes. Os moinhos desapareceram mas sabe-se que algumas estradas desviaram o seu percurso porque colidiam com os interesses dos influentes senhores A ou B.
É assim! O que fazer? Eles, os decisores políticos, que também viajam será que apenas vão fora, como diz Jorge de Sena, para se comprazerem de manjares e nada vêem ou será que o dinheiro fala mais alto? Sinto pena.

2 comentários:

Fernando Boto (Malawi/South Africa disse...

Teleférico do Rabaçal.
Uma autêntica violação da Natureza.

André Escórcio disse...

Concordo, Amigo Fernando.