Entre 15 e 18 de Dezembro os madeirenses e porto-santenses vão assistir a mais uma farsa. A Assembleia Legislativa da Madeira reunirá para um pseudo-debate do Plano e Programa de Investimentos e Despesas da Região para 2010. Trata-se de uma farsa porque o Presidente do Governo já disse que a maioria fará "ouvidos de mercador" e que as eventuais propostas que venham a ser colocadas pelos partidos da oposição "entrarão por um lado e sairão pelo outro". Portanto, serão quatro dias de blá-blá inconsequente.
Não é assim que entendo um debate sério, seja qual for a composição de uma assembleia, isto é, seja qual for a expressão numérica da maioria em relação ao somatório dos partidos da oposição.
O Plano e Orçamento constitui um momento de grande seriedade, que exige ponderação e responsabilidade de um e do outro lado, até porque se trata de documentos e de estratégias directamente relacionadas com a vida das pessoas. E com a vida das pessoas ninguém deve brincar. Neste pressuposto, o governo tem o direito de governar e de implementar o seu programa mas, em circunstância alguma, deve fechar a possibilidade de ouvir e de acolher as propostas, venham elas de onde vierem, capazes de irem ao encontro dos legítimos anseios da população. É tão incorrecto o governo fazer "ouvidos de mercador" porque detém uma maioria absoluta, como incorrecto é, na Assembleia da República, algum mau senso da oposição, tornar inviável o cumprimento dos objectivos da maioria sufragados no último acto eleitoral. Não aceito.
O Plano e Orçamento constitui um momento de grande seriedade, que exige ponderação e responsabilidade de um e do outro lado, até porque se trata de documentos e de estratégias directamente relacionadas com a vida das pessoas. E com a vida das pessoas ninguém deve brincar. Neste pressuposto, o governo tem o direito de governar e de implementar o seu programa mas, em circunstância alguma, deve fechar a possibilidade de ouvir e de acolher as propostas, venham elas de onde vierem, capazes de irem ao encontro dos legítimos anseios da população. É tão incorrecto o governo fazer "ouvidos de mercador" porque detém uma maioria absoluta, como incorrecto é, na Assembleia da República, algum mau senso da oposição, tornar inviável o cumprimento dos objectivos da maioria sufragados no último acto eleitoral. Não aceito.
É por isso que será uma farsa. Cumprir-se-á a regra "democrática" do "Plano e Programa de Investimentos e Despesa" ser aprovado na Assembleia, mas não passará de um ritual totalmente inconsequente. E tudo isto começa cedo. Começa pelos documentos em causa obrigatoriamente passarem pelas Comissões Especializadas, apenas para elaboração de uma acta que, formalmente, diga que "estão em condições de subir a plenário". Nova farsa. E assumo tratar-se de uma farsa porque ali, em cada Comissão, deveria comparecer o respectivo Secretário Regional, para apresentar o seu sector e discutir, com todos, as opções tomadas. Por exemplo, amanhã, participarei na Comissão Especializada de Educação, Cultura e Desporto e, naturalmente, gostaria de ser esclarecido e de me envolver num debate com o Secretário da Educação relativamente às opções tomadas. Tenho muitas perguntas para fazer depois de ter lido a proposta para 2010. Mas o Secretário não estará. A Comissão é formada por nove Deputados (sete do PSD, um do PS e outro do CDS-PP) e esta maioria é óbvio que impõe como quer a sua vontade. Se, quem tem a responsabilidade política não está presente, pergunto, serão os Deputados do PSD que vão questionar o Plano? Tempo perdido!
Depois, vem a segunda fase da farsa. Tem início, como já referi, no dia 15 de Dezembro. Continuo a dar como exemplo o meu caso de Deputado preocupado com a Educação, Cultura e Desporto. Quando o Secretário Regional das Finanças apresentar a Proposta de Orçamento para 2010 (60 minutos), eu terei, apenas, dois minutos para questioná-lo (uma pergunta) sem direito a reformular a questão. Como o Regimento prevê que ele possa responder em bloco a todas as perguntas formuladas pelos Deputados, pode até acontecer que algumas não sejam respondidas, por esquecimento ou por conveniência. Mas isto não fica por aqui...
Quando se iniciar o debate sectorial, continuo com o sector educativo, o Secretário disporá de 30 minutos para apresentar o programa do seu sector e eu terei, em representação do PS, quatro minutos para discutir um programa de 429,5 milhões de euros. Impossível um "debate" sectorial sério. E, atenção, quatro minutos disponho eu que pertenço a um grupo parlamentar com sete deputados, porque, no caso do PCP e do CDS/PP terão um minuto e meio. Pior ainda, no caso dos Deputados únicos (BE, PND e PT) não poderão exceder os 45''. Estou a falar do sector educativo mas o mesmo se passa com todos os outros sectores da governação. É óbvio que, assim, não há debate.
Mas a farsa continuará no "debate" da especialidade. Imaginemos que o PS apresenta 10 propostas (em 2008 apresentou mais de 50). Para a respectiva discussão dispõe de apenas cinco minutos o que corresponde a 30'' por cada proposta. Isto é, um tempo que quase se esgota no cumprimento do ritual... "Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados".
O curioso de tudo isto é que o "debate" é encerrado pelo Senhor Presidente do Governo "sem limite de tempo", sublinha o Regimento. Às vezes está três horas a perorar, outras, duas, na maioria do tempo com assuntos absolutamente marginais relativamente aos documentos em discussão. Enfim, será que isto constitui um verdadeiro debate em torno de documentos da maior relevância para a população? Do meu ponto de vista, isto não é sério. Respeito a maioria (esmagadora) mas há, convenhamos, um mínimo, a partir do qual passa a ser ridículo querer discutir seja o que for. RIDÍCULO!
E diz a Drª Manuela Ferreira Leite que aqui não existe "asfixia democrática". Vê-se.
2 comentários:
Senhor Deputado (da Oposição)
O senhor vai desculpar a minha ignorância,mas,parece-me que aquilo que acaba de escrever está em contradição com o recuo decidido, quanto à atitude do seu Partido, na farsa de debate do Orçamento Regional.
Cá para mim,insisto,"a bota não bate com a perdigota"!
E o mesmo digo em relação aos restantes Partidos da "suposta" Oposição.
Calculo que se sinta escandalizado por esta minha classificação.
Eu explico:
"Quem não se sente,não é filho de boa gente",diz a sabedoria ancestral.
Desse modo,quem é,sistematicamente,maltratado,
ofendido e humilhado,e se põe a jeito para o continuar a ser (dando cobertura às mais torpes aleivosias "democráticas")das duas uma:
Ou,está possuído da Santidade de Jesus Cristo (!!!);
Ou,a Dignidade, vale muito menos que um miserável prato de lentilhas eleitoral.
O estafado argumento de cumprimento de um dever, na circunstância,não colhe!
E não colhe há muitos anos!
Talvez seja, por estas e por outras,que a progressiva convicção dos eleitores vai derrapando para a homogenização da classe política.
Como dizem os meus compadres:
"É tudo farinha do mesmo saco"!
Para quê mudar!?!
Se ao menos houvesse um cheirinho de decência...
Obrigado pelo seu comentário.
É evidente que, no plano dos princípios, concordo totalmente com a sua posição. Por vezes torna-se necessário um violento choque para as pessoas acordarem. Só que, para isso, teríamos de ter, na Região, uma massa crítica que fosse capaz de "proteger" as atitudes políticas. Mais, uma comunicação social completamente livre que não deixasse passar em claro essas mesmas atitudes políticas.
Neste quadro, os partidos, sem as "almofadas" da sociedade, confrontam-se entre a posição de não participar na farsa e a volumosa onda de crítica social por não confrontarem o poder, mesmo que esse poder apenas lhes conceda uns escassos minutos para o "debate". A situação é muito complexa. O que lhe posso dizer é que, internamente, quando o problema se colocou, disse que não deveríamos participar. Todavia, compreendo, totalmente, o rol das consequências quando, por um lado, a sociedade experimenta dificuldades para compreender a situação e, por outro, não existe um acordo tácito entre toda a oposição. O que lhe posso dizer é que esta foi uma posição muito discutida e, politicamente, amadurecida.
Como salientei, trata-se de um documento importante para a vida das pessoas e deve ser debatido, simplesmente com outras regras de jogo. Estas, não, estão claramente viciadas.
Um dia, naturalmente, tudo isto terá e será revisto. Espero bem que sim.
Enviar um comentário