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sábado, 19 de dezembro de 2009

NÃO SUPORTO A HIPOCRISIA

O Senhor Representante da República teve, ontem, por ocasião da apresentação de cumprimentos de Natal por parte do governo regional, uma declaração muito curiosa, subtil mas de grande significado político: "muitas vezes, utilizando a pergunta que terá sido dirigida por Cristo ao Procurador Romano da Judeia: se me batem, digam porquê e se não erro porque me batem?". Nem mais.
Ora bem, eu que tive o privilégio de conhecer o Senhor Juiz Conselheiro Monteiro Dinis, de com ele dialogar longas horas nas audiências que participei ao longo dos seus mandatos, as suas palavras, muito longe de serem de amargura, reflectem um sentimento de profunda tristeza pelo comportamento político dos governantes locais. Convenhamos que não é fácil ter de suportar frases do tipo, o "inquilino do Palácio de São Lourenço" e "ninguém o obriga a estar cá" entre muitas outras de total deselegância. Aliás, a propósito de "inquilino" seria interessante o Povo conhecer as condições habitacionais de que desfruta o Representante da República no Palácio de S. Lourenço, de claríssima falta de dignidade em função do cargo que exerce. Seria bom, seria, que todos conhecessem aquela espécie de clausura! Ademais, o presidente do governo regional fala de "inquilino" e que "ninguém o obriga a cá estar" mas, com evidentes tonalidades de hipocrisia dirige-se ao Palácio para, anualmente, tecer-lhe os mais rasgados elogios à sua postura. Até deseja que ele por aqui se mantenha até 2011. Trata-se de um jogo baixo, sem nível, mas autêntico em função da personalidade que governa a Madeira, pois tanto elogia hoje como, logo de seguida, desfere a mais indelicada das declarações.
Não vejo o Senhor Representante da República como um empecilho à Autonomia da Madeira. Entendo-o como um elo de ligação e como uma imprescindível ajuda na produção legislativa regional. Pouco mais do que isso. Aliás, terá de existir sempre uma figura de apoio e de relação com a República se considerarmos o actual quadro constitucional. Uma figura e um cargo sediado na Madeira ou no Continente, na esfera da responsabilidade do Senhor Presidente da República. Vejo-o assim, como importante ajuda e não como um empecilho ao desenvolvimento da Autonomia. Outra coisa é a legislação produzida na Assembleia ou pelo governo, bastas vezes com falta de cuidado em função de ilegalidades e até de inconstitucionalidades. Situações que acontecem por falta de rigor, por uma lógica de funcionamento de quero, mando e posso, sem o necessário cuidado e bom senso, até, de um diálogo prévio com quem domina a Lei. E neste caso, melhor do que ninguém, o Representante da República, pela sua formação académica e profissional. Convencido estou que muitas devoluções de diplomas à Assembleia poderiam ter sido evitadas se o bom senso tivesse prevalecido.
Pessoalmente, no plano político, não me incomoda rigorosamente nada a figura institucional prevista na Constituição. A Autonomia e o futuro da Madeira não dependem dele nem ele desempenha qualquer função travão a esse desenvolvimento. Até porque a figura existirá sempre, com esta ou outra designação, sediada aqui ou em Belém. O problema é de diálogo civilizado e não de permanente ofensa, com uma ou outra declaração protocolar, como a de ontem, de cumprimentos de Boas-Festas. Terá existido sinceridade naquela presença? Julgo que não.
Agora, não deixo de assumir que gostaria de ver o Senhor Representante da República mais interventor face aos atropelos à Democracia na Madeira. Talvez nutrissem por ele maior respeito institucional.

1 comentário:

Pica-Miolos II disse...

Senhor Deputado

O mal disto tudo - para além da maioritária capangada orçamental - é prevalecer a hipocrisia do "politicamente correcto".
Recordo,com saudade e admiração,o Coronel Lacerda,que,não sendo de intrigas,enfiou um chapadão no embrionário "mais importante" cá do sítio.
O correctivo,pelos vistos,foi, manifestamente, insuficiente para o elevado grau de ordinarice larvar.
O bock,porém,esquece-se de que "quem semeia ventos,colhe tempestades" e,ainda,de que quem cria víboras,acaba por elas picado.
A ver vamos...