ESTRANHO, MUITO ESTRANHO!

Então está o povo cansado de seis anos de governo socialista e não está cansado de 35 anos de governo do Dr. Jardim, ao mantê-lo com uma expressão de 50% dos eleitores? Então os desabafos que a cada esquina ouvimos, que "esta gente tem de ser posta a andar", que se exige uma mudança depois de tantos anos de governo, de uma economia paralisada, de desemprego e pobreza, ainda assim, concedem-lhe 50% dos votos? Que estranho povo!  

As sondagens constituem um indicador a ter em consideração. Não mais do que isso. Por mais rigorosa e científica que seja a definição da amostra, quando ela se realiza pelo telefone, pode não corresponder ou aproximar-se do veredicto eleitoral. A distribuição hoje apresentada pelo DN-Notícias pode, eventualmente, caber dentro deste quadro. Subsistem-me dúvidas que o resultado possa ser este: PSD - 50,5%, PS - 17,2%, CDS - 15,0%, CDU - 4,5% e BE - 3,8%.

Desde logo acho estranho que o PND e outros sejam considerados residuais, portanto sem qualquer expressão eleitoral. É uma dúvida que tenho que só domingo será desfeita. Sobretudo, o peso das suas votações no contexto dos vários partidos concorrentes. Até porque isso possibilitará uma leitura política quanto às eleições regionais de Outubro. Bom, mas quanto aos partidos do topo, aí residem as minhas maiores dúvidas.

Eu sei que há factores que podem conduzir à previsão hoje anunciada: a campanha agressiva contra o governo do Engº José Sócrates, nem sempre, politicamente, bem fundamentada, o enorme desgaste que sofreu em função da crise internacional, a atitude discursiva e influenciadora do presidente do governo regional da Madeira e de todo o grupo parlamentar do PSD que passaram mais quatro anos no parlamento a dirigir todo o seu discurso para fora, quando têm problemas cá dentro até ao céu da boca (desemprego, pobreza, dívidas e falência do sistema empresarial), a rede partidária tentacular interna, a propaganda produzida através do "órgão oficial Jornal da Madeira", pago pelo povo, a gravíssima incapacidade do povo para cruzar e interpretar todos os sinais políticos que o rodeiam, enfim, longe de desculpas esfarrapadas às quais não sou dado, aquela previsão, apesar de todos os conhecidos constrangimentos sociais e políticos, ainda assim deixa-me perplexo. Quero acreditar que o quadro final possa ser outro.

E digo isto porque tenho presente o que foi a participação do grupo parlamentar do PS-M na Assembleia Legislativa. Em matéria económica, financeira, educativa, do desporto, dos assuntos sociais, saúde e ambiente, por exemplo, foram apresentadas propostas, devidamente estudadas e reflectidas que justificam uma outra leitura por parte dos eleitores. Foram quatro anos de excelente trabalho de um grupo de apenas sete deputados. E tenho presente o trabalho empenhado e sério da CDU e do BE, o combate político que fizeram, as denúncias que apresentaram, ora tudo isto, em conjunto, só valerá 8%? E como justificar 15% no CDS-PP que não tem, valha a verdade (com o devido respeito e consideração pelos deputados que até são meus amigos), o sentido propositivo dos restantes partidos? Não estou a dizer que o CDS não constitui um grupo de discurso sério, não, do que estou a falar é do sentido, da profundidade e alcance das propostas. A diferença é substancial. Há qualquer coisa aqui que não bate certo, ou, se calhar, até bate, se juntarmos outros factores que, por agora, não quero aludir.

Depois, estando em causa, para a Madeira, a eleição de seis deputados à Assembleia da República e não quem será primeiro-ministro, esta sondagem permite a interrogação: então está o povo cansado de seis anos de governo socialista e não está cansado de 35 anos de governo do Dr. Jardim, ao mantê-lo com uma expressão eleitoral de 50% dos eleitores? Então os desabafos que a cada esquina ouvimos, que "esta gente tem de ser posta a andar", que se exige uma mudança depois de tantos anos de governo, de uma economia paralisada, de desemprego e pobreza, ainda assim, concedem-lhe 50% dos votos? Que estranho povo ou que estranha sondagem! Domingo, espero que os resultados sejam diferentes, mais consentâneos com a produção do trabalho dos partidos da Madeira, com as propostas apresentadas e com a necessidade de todos os madeirenses e porto-santenses darem um sinal que, em Outubro, nas legislativas regionais, tudo será diferente.

Ilustração: Google Imagens.