A implosão tem, por isso, causas profundas, de um sistema que procurou o caminho errado, o caminho de um desporto ao serviço da política e não de um desporto ao serviço do desenvolvimento. Portanto, hoje, encontramo-nos face a face com a verdade e, das duas, uma: ou o governo aproveita a oportunidade para corrigir, profundamente, todo o processo, ou, rapando o fundo do tacho onde existem, ainda, algumas moedas, manterá, artificialmente, um sistema doente e, repito, em estado comatoso. Neste caso, eu diria, metaforicamente, desliguem, rapidamente, a máquina. Não há outra solução senão o do regresso à realidade de uma Região pobre, dependente, assimétrica e a braços com graves problemas sociais. O desporto se nunca foi a primeira das necessidades, hoje, quanto muito, poderá ser eligido como a primeira das terceiras necessidades. E estou a ser generoso, pois basta termos presente a pirâmide das necessidades de A. Maslow.
Parafraseando, a solução não está no banco, mas na paralisação do sistema desportivo. Aceito que esta minha posição a muitos possa chocar, todavia, é pelo respeito que nutro pelo trabalho dedicado de tantos dirigentes voluntários e durante muitos anos, que considero importante abanar o sistema, gerar uma rutura com os procedimentos do passado, para que tudo renasça de forma sustentada. Não me parece existir outra alternativa, pelo que poderão escrever cartas ao presidente do governo que o drama continuará em função de um cofre vazio. Não tenhamos ilusões. Se ontem o dinheiro já era escasso, doravante, pior será. E se momentos houve propícios a uma alteração da política desportiva, hoje, temos aí outro que poderá constituir uma grande oportunidade de mudança do paradigma. Manter o sistema como ele está, completamente deficitário, falido, extremamente dependente do erário público, se ontem não foi solução não o será, com toda a certeza, no futuro. O estado do sistema é comatoso e ligado a uma máquina de manutenção "vegetativa". O sistema está longe de uma qualquer recuperação se se mantiver o quadro político que o sustenta.
Eu sei que o momento é dramático para as instituições, profundamente arrasador para o dirigismo que, por culpa de muita gente da política, carrega hoje uma responsabilidade financeira muito preocupante. E sei o que significa uma paragem na actividade, fundamentalmente, para os praticantes, para os técnicos e para os colaboradores dos clubes e associações. Este quadro é dramático, repito, é de aflição para dirigentes que assinaram documentos com responsabilidades bancárias e que podem ver o seu nome manchado quando, em todo o processo, estiveram de boa fé. Compreendo toda a situação, até de desemprego, mas não há solução para o problema pela via da continuidade do financiamento público. Essa é uma teta que todos sabem estar magra.
Eu sei do que falo, porque fui técnico desportivo, vivi intensamente o lado do dirigismo, pois sem a ele pertencer por ato eletivo, desempenhei funções como se a ele pertencesse, andando, nos tempos que as empresas apresentavam alguma robustez, a recolher meios financeiros para a subsistência da actividade desportiva, vivi momentos de euforia com outros de desencanto, mas nunca permiti que o clube dependesse do financiamento público. Escrevi contra essa política de financiamento público desde os primórdios dos anos 80, o que me custou alguns dissabores que, felizmente, estão documentados. Apresentei, na Assembleia, projectos que foram chumbados. Eu sabia e muitos sabiam que essa dependência, sempre em crescendo, não teria, no futuro, hipóteses de sustentabilidade. Seria uma questão de tempo e o sistema implodiria. Qualquer pessoa sensatamente envolvida no sistema sabia que o percurso escolhido pelo governo não aguentaria, mesmo que não aparecesse qualquer crise.
De resto, a implosão não surgiu em 2012. Ela vem desde há alguns anos, com os atrasos sistemáticos nas contratualizações assumidas com o associativismo, a implosão começou a ser denunciada com as dívidas associativas aos fornecedores de bens e de serviços, no acumular de gigantescos passivos e na insolvência técnica das sociedades anónimas desportivas. A implosão começou quando o IDRAM fazia gala de um apoio a mais de 60 modalidades e à existência (dizem) de 16.000 praticantes federados que não tinham correspondência e proporcionalidade com a actividade desportiva escolar. A implosão começou quando a instituição IDRAM fazia gala de mais de 1500 participações anuais (vezes o número de praticantes de cada representação) no espaço nacional e internacional. Ela começou com a construção insustentada e insustentável de muitas instalações desportivas. A implosão tem, por isso, causas profundas, de um sistema que procurou o caminho errado, o caminho de um desporto ao serviço da política e não de um desporto ao serviço do desenvolvimento. O desporto na Região nunca foi entendido como um bem cultural. Portanto, hoje, encontramo-nos face a face com a verdade e, das duas, uma: ou o governo aproveita a oportunidade para corrigir, profundamente, todo o processo, ou, rapando o fundo do tacho onde existem, ainda, algumas moedas, manterá, artificialmente, um sistema doente e, repito, em estado comatoso. Neste caso, eu diria, metaforicamente, desliguem, rapidamente, a máquina. Não há outra solução senão o do regresso à realidade de uma Região pobre, dependente, assimétrica e a braços com graves problemas sociais. O desporto se nunca foi a primeira das necessidades do Homem, hoje, quanto muito, poderá ser elegido como a primeira das terceiras necessidades. E estou a ser generoso, pois basta termos presente a pirâmide das necessidades de A. Maslow.
É evidente que há que salvaguardar alguns interesses assumidos e, neste quadro, algumas, repito, algumas competições nacionais em curso. Há que salvaguardar a representação olímpica e há que acautelar as graves dificuldades em que se encontram muitos dirigentes desportivos. Há que pagar o que foi contratualizado com o associativismo, mas tudo o resto tem de parar. Será doloroso, obviamente que sim. Será difícil para muitos, inclusive, praticantes e técnicos, disso não tenho a menor dúvida, mas é o único caminho. Quando o IDRAM assume que as dívidas ascendem a mais de 52 milhões de euros, o equivalente ao pagamento de dois meses de salários na função pública, pergunto, se existe uma qualquer outra solução? Não existe e os clubes e associações sabem disso e o governo muito mais.
Que imbecil governo nos trouxe a esta dramática situação!
Ilustração: Google Imagens.
Sem comentários:
Enviar um comentário