Se, em relação ao pagamento das dívidas, ficou claro que o governo, sem dizer quando e como, se compromete a saldar as dívidas (era o que faltava não liquidá-las!), já em relação ao projeto para o futuro nem uma palavra. É que o problema da política desportiva não se esgota no financiamento, em novas regras de distribuição do bolo, que tarde ou cedo serão estipuladas, mas em uma atitude prospetiva global, do que se deseja fazer hoje para que o sistema tenha sucesso amanhã. Ora, o que o secretário veio confirmar é que não tem uma ideia para o setor, nem para a interface sistema educativo/sistema desportivo. Perurou sobre as dificuldades do momento, europeias, nacionais e regionais e, neste pressuposto, falou de um orçamento regional de base zero, em um futuro regulamento de apoio ao associativismo de base zero, o que me leva a concluir, por extensão, que esta entrevista também foi de base zero.
Não tinha grandes expetativas, mas alguma curiosidade. Deixei de ver um outro programa que me interessava e fixei-me no "Prolongamento" da RTP-Madeira, uma vez que o convidado era o secretário regional da Educação e dos Recursos Humanos. Acabou por ser o "prolongamento" do que era previsível. Uma entrevista sem qualquer conteúdo que mereça aprofundada reflexão, palavras de circunstância e conceitos errados, face a três comentadores residentes, cada um bem definido nas suas opções clubísticas, denunciando mil e uma cautelas, porque o momento das suas instituições, precisando de dinheirinho fresco como de pão para a boca, assim aconselhavam. Não me centro, por isso, nas respeitáveis posições dos comentadores, mas naquele de quem depende a política desportiva. E aí, sim, a entrevista ultrapassou, pela negativa, o que seria de esperar. Isto é, um governante novinho nestas andanças, desconhecido no ambiente do associativismo desportivo, que poderia ali marcar o terreno de um novo tempo político para o desporto madeirense, veio, no essencial, repetir o paleio do costume. Esmiuçando aquela entrevista dela não ressaltou uma ideia, um esboço de paradigma que marcasse a rutura com um tempo e a abertura de um outro sustentável, duradouro e de resultados. Sem querer colocar as minhas palavras e conceções na boca do secretário, penso, todavia, que, para ele, governante, tudo se resumiria a dois momentos: primeiro, vamos pagar todas as dívidas em atraso; segundo, a partir de 2012/2013 a política desportiva assentará neste e naqueles pressupostos. Se, em relação ao pagamento das dívidas, ficou claro que o governo, sem dizer quando e como, se compromete a saldar as dívidas (era o que faltava não liquidá-las!), já em relação ao projeto para o futuro nem uma palavra. É que o problema da política desportiva não se esgota no financiamento, em novas regras de distribuição do bolo, que tarde ou cedo serão estipuladas, mas em uma atitude prospetiva global, do que se deseja fazer hoje para que o sistema tenha sucesso amanhã. Ora, o que o secretário veio confirmar é que não tem uma ideia para o setor, nem para a interface sistema educativo/sistema desportivo. Perurou sobre as dificuldades do momento, europeias, nacionais e regionais e, neste pressuposto, falou de um orçamento regional de base zero, em um futuro regulamento de apoio ao associativismo de base zero, o que me leva a concluir, por extensão, que esta entrevista também foi de base zero.
E já que a entrevista, fundamentalmente, andou pelo campo do financiamento ao associativismo, pergunto, quantos regulamentos foram anunciados e apresentados nos últimos anos e que acabaram por se transformar em documentos de meros acertos marginais, que nunca tocaram naquilo que deveria corresponder a um pensamento político estrutural para o desporto? Este regulamento que, diz o secretário, está a ser desenhado, é apenas mais um que em nada alterará os posicionamentos históricos sobre esta matéria. O governo, naquela entrevista, não conseguiu fazer um aviso à navegação e, por isso mesmo, deixou margem para que a pressão do associativismo venha a ditar as suas regras. Não estão em causa menos 5, 10, 15 ou 20% na assunção dos contratos programa, mas a ideia base, o conceito estratégico que o governo pretende implementar. Ora, o governo não tem uma ideia do que pretende.
O secretário agarrou-se a um conjunto de frases feitas, de palavras sem sentido, mas suscetíveis de enganar os desprevenidos. Por exemplo, falou de um passado de "brilhantes resultados", mas esqueceu-se que esses resultados efémeros, não só deixaram uma dívida colossal, como também 77% da população alheada da prática física e desportiva. E disse uma outra enormidade quando abordou a dicotomia escola-clube, ao sublinhar que o lugar próprio da formação é o clube. Não, senhor secretário, o lugar próprio, por excelência, é a escola, que tem de ser reorganizada no sentido de possibilitar uma interface de sucesso com o clube desportivo federado. Os clubes e as associações não visam a quantidade, mas a qualidade; à escola compete atingir 80/90% da sua população através do desportivo educativo, em diferenciados patamares ao longo de doze anos, com qualidade técnica, com rigor, com competição regular e com financiamento adequado. O clube deve constituir a extensão da excelência do trabalho ao nível do desporto educativo escolar. Isso implicava que o secretário centrasse a sua preocupação na formação ao nível de escola, nos currículos e não ao contrário. No fundo, apresentou-se ali como um secretário do desporto e não como um secretário da educação. Aliás, a sua contínua obsessão pelos resultados ao nível nacional para garantirem "a dignidade e deixar bem o nome da Madeira" diz tudo relativamente ao seu posicionamento de mudar algumas coisas para que tudo fique igual. Não é por aí que a Madeira deverá seguir, não só pela existência de outras prioridades, mas também porque estas ilhas atlânticas são pobres e dependentes. Se o sistema, durante trinta anos, conduziu a uma dívida superior a 52 milhões de euros (IDRAM - peça jornalística publicada no DN e não desmentida), fora trezentos e tal milhões investidos nos últimos dez anos, mesmo que o governo pague o atrasado, dívida acumulada no tempo das vacas gordas, saliento, doravante, mantendo o globalmente a estratégia política, agora em tempo de vacas magras, a questão que se coloca é a de saber se haverá dinheiro para pagar a dívida e continuar a alimentar o monstro. É evidente que não há dinheiro para essa megalomania!
O Jornalista Nélio Gouveia e bem, ainda tentou abanar a consciência do secretário, perguntando-lhe se era possível manter 63 modalidades e duzentos e tal clubes e associações. O secretário, penso que não percebeu o alcance da pergunta e deixou isso à consideração do associativismo, no fundo, transmitindo a ideia que, se a minha aposta é a dignidade da representação da Madeira, quem não aguentar que feche as portas! Ora, para mim, neste momento, mero observador da situação, se esta política bateu no fundo, com esta entrevista, não me ficou a mínima dúvida que continuará no pântano sem hipóteses de qualquer recuperação.
Ilustração: Google Imagens.
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