Tenho presente, nos momentos de euforia, particularmente, aquando dos jantares de aniversário, as palavras ditas e as promessas que, se outro fosse o senso de quem governa, teriam, obviamente, de ser mais comedidas. Tudo foram facilidades no meio dos inconscientes aplausos e o dinheiro, recurso sempre escasso, foi distribuído, com atrasos significativos, é certo, a quem pedia ou falava mais alto. Os outros que clamaram bom senso e respeito pelas prioridades, ao longo de trinta anos, bastas vezes foram desconsiderados e "apedrejados" na praça pública. Não é admirar, por isso, que as criaturas se revoltem contra o criador. O monstro criado, que está muito para além do futebol profissional, só se alimenta e ressaca através de doses cada vez maiores de produto. Aí, ele estabiliza, mas prossegue a sua dependência no quadro de um círculo vicioso. Não há volta a dar, a não ser com uma ruptura e um longo percurso de dolorosa abstinência.
Não culpo quem mergulhou, certamente com muita paixão e fervor clubístico, na aventura do futebol profissional, numa terra que se sabia pobre, assimétrica e dependente. É legítima a aspiração de querer ir mais longe enriquecendo o historial das instituições. Culpo, sim, quem, sem visão política do respectivo enquadramento e das consequências da bola de neve, como sói dizer-se, deu corda e, irracionalmente, alimentou até ao limite, no pressuposto de um retorno ao nível dos dividendos políticos. Tenho presente, nos momentos de euforia, particularmente, aquando dos jantares de aniversário, as palavras ditas e as promessas que, se outro fosse o senso de quem governa, teriam, obviamente, de ser mais comedidas. Tudo foram facilidades no meio dos inconscientes aplausos e o dinheiro, recurso sempre escasso, foi distribuído, com atrasos significativos, é certo, a quem pedia ou falava mais alto. Os outros que clamaram bom senso e respeito pelas prioridades, ao longo de trinta anos, bastas vezes foram desconsiderados e "apedrejados" na praça pública. Não é admirar, por isso, que as criaturas se revoltem contra o criador. O monstro criado, que está muito para além do futebol profissional, só se alimenta e ressaca através de doses cada vez maiores de produto. Aí, ele estabiliza, mas prossegue a sua dependência no quadro de um círculo vicioso. Não há volta a dar, a não ser com uma ruptura e um longo percurso de dolorosa abstinência.
Ora, quando o presidente do C. S. Marítimo assume que "a explosão de revolta não tardará muito", interpreto aquelas palavras no quadro do desespero a que outros conduziram as instituições. Leio que "vivem em agonia que pode levar à morte". Pois é, só alimentando o monstro ele ficará saciado, estável, tranquilo, esbatendo a hiperactividade e a ansiedade. Mas a tal "explosão de revolta" não se cinge apenas ao futebol profissional ou, de forma mais alargada, a todo o associativismo desportivo, mas a todo o sistema empresarial em crescentes dificuldades. A morte é a da sociedade e não a dos clubes. Não é o sector da cobrança de impostos que está em causa, mas as políticas regionais que conduziram a Região ao descalabro, ao ponto de estar a sofrer as consequências de uma dupla austeridade. A "explosão de revolta" poderá começar por aí, porque os 22.000 desempregados e de uma maneira geral a aflição dos empresários que geram emprego, "não podem viver numa agonia permanente que leve à sua morte". E entre o futebol profissional e todas as sociedades anónimas desportivas, repito, sendo o recurso financeiro sempre escasso, tal determina o estabelecimento de rigorosas prioridades. Não colhe, por isso, uma certa ilusão baseada no retorno ao nível dos impostos, pois se é assim, dir-se-á, dispensem os financiamentos porque dessa forma nada terão a liquidar junto do fisco. É uma leitura possível.
Mas esta entrevista do presidente do Marítimo, conduzida pelo jornalista Emanuel Rosa, reflecte uma outra questão que não é de somenos importância política. Quando assume que "(...) há directrizes da presidência do governo regional para a secretaria Regional do Plano e Finanças e para a direcção regional de Finanças que não são cumpridas (...)", isto significa que o presidente do governo pouco manda, não tem rigor quanto ao cumprimento da Lei ou, então, os serventuários do poder, pela frente, abanam-lhe a cabeça, mas por detrás não lhe ligam pevide! Quer dizer que o homem já não tem noção que não manda. Simplesmente a muitos interessa que ali esteja para sua própria defesa, mas a leitura que dele fazem é outra bem diferente. Interessante, muito interessante, do ponto de vista político.
Certo em tudo isto é que hoje a "vaquinha" chamada futebol está pronta para abate. Não se trata de um fait-divers de início de temporada. Esta entrevista enquadra-se muito para além do futebol. Há ali pontapés que não são para as bananeiras, mas para gente sentada em várias bancadas.
Ilustração: Google Imagens.
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