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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O DESMORONAMENTO DO CASTELO


Esta entrevista acaba por ser de uma enorme relevância política. É que o Professor Virgílio Pereira não é um militante qualquer sem peso político. Dizendo, não dizendo, as suas declarações, do meu ponto de vista, isolaram, completamente, o Dr. Jardim, manda-o às malvas, pois não lhe chama ditador, mas, qual metáfora, compara-o ao eucalipto; não fala de um regime não-democrático, mas com elegância diz "que me custa ver é que o PSD poderia ter contribuído para uma cultura de maior debate, maior tolerância, mais concernente com certas democracias ocidentais"; não assume, frontalmente, a frase: é tempo de ele ir embora, mas mostra-se "desiludido, enquanto social-democrata e militante do PSD"; não assume que a política educativa e de cidadania activa foi um desastre, mas acentua que um "grande público só é chamado a pronunciar-se no dia das votações. A parte da sociedade mais esclarecida é muito inferior à que não é". Por tudo isto, sublinha, não poder "pintar cenários cor-de-rosa quando a realidade é negra".

Sempre que com ele me cruzo falamos um pouco. Há um respeito bilateral. Temos, obviamente, diferentes concepções sobre a condução política, desde que o defrontei nas eleições autárquicas de 1993. Julgo que não ficaram mazelas dessa disputa muito quente e muito frontal e, se algumas ficaram, o tempo encarregou-se de neutralizá-las. Eu sinto isso quando conversamos. Até porque, de então para cá, o Professor Virgílio Pereira tem sido muito crítico para o interior do seu partido, tocando bastas vezes em feridas que sangram na sociedade. Dir-se-á que se aproximou do que há muito defendo. A entrevista de ontem, publicada no DN-Madeira, no essencial, assume aquilo que muitos da oposição já escreveram e ao longo de anos disseram.
"Temos um regime democrático musculado", bom, não é novidade, pois há quantos anos se fala de "défice democrático"! Obviamente que a sua idade e o seu cada vez maior desprendimento acabam por ter, agora, ainda mais peso e, portanto, uma maior liberdade partidária para dizer o que, porventura, sempre foi o seu pensamento político. Quando, no decorrer da entrevista, assume que "os lideres carismáticos têm um denominador comum que é a vontade de quererem ser as figuras principais, absorvendo tudo e todos" e que "a tal figura do eucalipto que seca tudo à sua volta, encaixa-se bem (...)" na figura do Dr. Jardim, eu não diria que se trata de uma atitude de coragem para assumir tal posicionamento, mas o de vir ao encontro da realidade e do que outros já disseram, porventura com palavras mais agressivas, face ao longo e desprestigiante percurso político do líder do PSD-M.
Pois bem, esta entrevista acaba por ser de uma enorme relevância política. É que o Professor Virgílio Pereira não é um militante qualquer sem peso político. Dizendo, não dizendo, as suas declarações, do meu ponto de vista, isolaram, completamente, o Dr. Jardim, manda-o às malvas, pois não lhe chama ditador, mas, qual metáfora, compara-o ao eucalipto; não fala de um regime não-democrático, mas com elegância diz "que me custa ver é que o PSD poderia ter contribuído para uma cultura de maior debate, maior tolerância, mais concernente com certas democracias ocidentais"; não assume, frontalmente, a frase: é tempo de ele ir embora, mas mostra-se "desiludido, enquanto social-democrata e militante do PSD"; não assume que a política educativa e de cidadania activa foi um desastre, mas acentua que um "grande público só é chamado a pronunciar-se no dia das votações. A parte da sociedade mais esclarecida é muito inferior à que não é". Por tudo isto, sublinha não poder "pintar cenários cor-de-rosa quando a realidade é negra".
Em discurso directo, assino por baixo, Professor Virgílio Pereira. O problema, como sabe, melhor que eu, é que este quadro não é novo, o livrinho laranja regional tem os seus cânones, e que as tais "democracias ocidentais" implicam, necessariamente, a regra da alternância no poder, oferecendo ao povo, do ponto de vista ideológico, outros caminhos possíveis, inovadores, criativos e de esperança quanto ao bem-estar da população. Repetir a mesma cartilha, embora com novos protagonistas, pintando-a de fresco, obviamente que tal constituirá o caminho certo para a repetição da História. Os partidos e os políticos devem assentar a sua práxis em um substrato ideológico, pois se assim não acontecer tenderão, na governação, a mexer nas margens, mas mantendo o núcleo das questões apodrecidas. E para a necessária mudança a oposição, aquela que pode ser poder, não pode ser visada, porque está tudo ou quase tudo escrito sob a forma propositiva. O problema é desmontar a teia de pequenos e de grandes interesses que dominam na Região, arrancar o "eucalipto" desde as autarquias às casas do povo, do associativismo à Igreja. O problema está aí e não na alternativa política, como bastas vezes por aí ouço.
Independentemente disso, esta entrevista deve ter causado alguns engulhos ao presidente do governo e líder do PSD-M. Se em relação ao partido cabe aos militante definir (se forem livres) quem o deve liderar, já quanto à governação regional aqui digo aquilo que o Professor Virgílio Pereira, compreensivelmente, contornou: é tempo de ele ir embora. Desampare a loja que pertence a todos os madeirenses e portosantenses e não apenas a alguns.
Ilustração: DN-Madeira. Foto colombopress.

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