Não sabes também Pedro que o “brutal” aumento de impostos a que nos sujeitaste destruiu muita coisa que não volta, como agora dizes, nas projeções económicas para 2014. Não apenas nos tiraste o dinheiro, os sonhos e as ambições. O que esta “poupança” está a fazer, e que tu não vês Pedro, é dar cabo de um país. E o país não é social-democrata, socialista ou comunista; o país são os portugueses. E olha que alguns dos melhores já se foram daqui embora.
Estive tentado a escrever sobre a mensagem de Natal do Primeiro-Ministro. Considerei-a uma provocação e, sobretudo, um texto de enorme hipocrisia. No meio de tantas contradições, no final, desejar um "bom ano" aos portugueses, quando se sabe que este será, claramente, pior que o de 2013, não tem outra leitura senão a do cinismo transmitido com ar de "ternura" pelos portugueses. Hoje iria debruçar-me sobre o seu texto, mas li um outro do meu Amigo Dr. Luís Sena Lino, na página de opinião do DN-Madeira, que ultrapassa em muito o que eu desejava comentar. Deixo aqui esse texto, incisivo, honesto e realista, com os parabéns ao seu autor e a devida vénia ao DN.
"Caro Pedro,
Na resposta à mensagem de Natal que nos dirigiste, que li com atenção e na íntegra, aceita estas minhas palavras. Anotei a tua opinião de que «durante demasiado tempo toleraram-se em Portugal fortíssimas desigualdades, quase sem paralelo na Europa, e resignámo-nos à estagnação social». Estranho Mundo aquele em que vives, pois esse facto que agora assinalas tornou-se mais claro como quase nunca, no pós-25 de Abril, durante a tua governação: o país que tu vês crescer não existe, as esperanças que nos lanças não existem, como não existe no teu discurso e no teu pensamento político uma ideia que não passe por cortar nas despesas sociais do Estado, para atingir a percentagem que persegues do défice face ao PIB.
Não sabes Pedro, porque não sabes mesmo, o que é chegares a velho e teres de viver com menos de 400 euros por mês (ou menos) de pensão. Não sabes Pedro o que é ter de tirar comida da mesa, pedir dinheiro emprestado, comprar roupa ou pneus em 2ª mão, roubar sonhos aos teus filhos mesmo com um sorriso na face, tentando ensinar-lhes que a igualdade um dia também lhes sorrirá. Não sabes Pedro o que é não conseguir emprego, mesmo quando és jovem e letrado. Temos uma das maiores taxas de desemprego jovem da Europa e o país que governas conhece por estes dias o maior êxodo (emigração) dos últimos 40 anos.
Não sabes também Pedro que o “brutal” aumento de impostos a que nos sujeitaste destruiu muita coisa que não volta, como agora dizes, nas projeções económicas para 2014. Não apenas nos tiraste o dinheiro, os sonhos e as ambições. O que esta “poupança” está a fazer, e que tu não vês Pedro, é dar cabo de um país. E o país não é social-democrata, socialista ou comunista; o país são os portugueses. E olha que alguns dos melhores já se foram daqui embora.
Não tinhas de nos prometer este Natal “sangue, suor e lágrimas” como Churchill fez em tempo de guerra, mas esperava que conseguisses entender que a política como carreira (aquela que um dia te dará a ti como deu ao Vitor Constâncio, ao Durão Barroso e ao Vitor Gaspar um confortável assento na Europa) não nos vale de muito a nós. Se não tiveres visão e não conseguires influenciar o pensamento político dominante em Berlim ou em Bruxelas, de muito pouco terá servido a tua passagem pela política.
Por isso Pedro, quando me dizes que «(…) no Portugal em que todos se reveem, ninguém pode estar condenado à frustração dos seus sonhos simplesmente porque vive naquela região mais remota, neste bairro mais periférico ou porque nasceu em condições sociais e familiares mais adversas», nem sei bem o que te diga, sabendo porém que a realidade em que vives é paralela àquela em que nós existimos. Não é, de todo, a mesma".
Ilustração: Google Imagens.
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