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sábado, 7 de dezembro de 2013

DESABAFO SOBRE O MUNDO DE HIPOCRISIAS


Não vou escrever sobre Mandela. Está tudo dito sobre a figura ímpar da nossa História política. Apenas me curvo perante a sua morte em acto de profundo sentimento pelo seu exemplo de vida e pela sua luta em defesa do seu Povo e da Humanidade. A sua morte física trouxe, também, à luz do dia o mundo de hipocrisias que nos rodeia. Sento-me frente à televisão, percorro os canais e vejo ali um mundo de políticos hipócritas que, agora, acompanhando a onda, tecem louvores, enaltecem a sua luta, nele vêem o exemplo e a gratidão por ter deixado tão importante legado. Obviamente, uns sinceros, porque estiveram do lado da sua defesa, porém, uma parte significativa, dizendo banalidades não sentidas. Palavras sem memória e que até ofendem. Para a hipocrisia ser completa só falta, agora, o Presidente da República Cavaco Silva tomar o avião e deslocar-se ao funeral daquele Homem que ajudou a que o mantivessem na prisão por mais três longos anos até que as circunstâncias determinassem a sua libertação. HIPÓCRITA, com todas as letras. Mas o exercício da política está cheia destas figurinhas. E o mais curioso é que a hipocrisia é tal que tecem elogiosas considerações a uma luta e a uma forma de estar na política, que eles próprios não conseguem traduzir tais exemplos nas suas próprias vidas. Um nojo!


Confesso que só depois de ler o artigo de Daniel Oliveira, jornalista do Expresso, a memória avivou-me o triste episódio de 1987, protagonizado pelo actual Presidente da República Portuguesa, então Primeiro-Ministro. Em nome do povo português foi público que enviou uma mensagem de condolências ao seu homólogo sul-africano, Jacob Zuma, pela morte de Nelson Mandela. Nela, recorda Mandela como "figura maior da África do Sul e da História mundial" e o seu "extraordinário legado de universalidade que perdurará por gerações". E, acima de tudo, a sua "coragem política" e "estrutura moral". Mas Daniel Oliveira recorda e bem: "É da estatura moral e de coragem política que quero falar. Estávamos em 1987, e o mundo pressionava a África do Sul para libertar Nelson Mandela. Um homem que o Departamento de Estado norte-americano considerava "terrorista" e que Portugal não via com especial simpatia. Por essa altura, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, com 129 votos a favor, uma resolução de solidariedade com a luta do ANC e dos sul-africanos, que incluía um apelo para a libertação incondicional de Mandela. Alguns, poucos, países estragaram a festa, faltando com o seu voto. Um deles foi os Estados Unidos, então presididos por Ronald Reagan. Outro foi o Reino Unido, que tinha ao leme a amante da democracia e da liberdade, Margaret Thatcher. E o outro foi Portugal, que tinha como primeiro-ministro o mesmíssimo Cavaco Silva que hoje se comove com as "verdadeiras lições de humanidade" do homem que, por pressão internacional, saiu, sem rancor, de 20 anos de cativeiro sem a ajuda de quem hoje tanto celebra o seu legado. (...) Ana Gomes recordou outro episódio. Quando a antiga diplomata estava em Genebra, houve, em 1989, uma votação das Nações Unidas sobre as crianças vítimas do apartheid. As instruções que vieram de Lisboa, do governo de Cavaco Silva, foram, mais uma vez, para votar contra. E foi esta, em geral, a posição portuguesa. (...)". Pura hipocrisia. Vergonha tenho eu de ter Cavaco como Presidente do meu País. Recordo-me desse episódio de natureza inqualificável. E para quê mais palavras?
Para a hipocrisia ser completa só falta, agora, esta personagem tomar o avião e deslocar-se ao funeral daquele Homem que ajudou a que se mantivesse na prisão por mais três longos anos até que as circunstâncias determinassem a sua libertação. HIPÓCRITA, com todas as letras. Mas o exercício da política está cheia destas figurinhas. E o mais curioso é que a hipocrisia é tal que tecem elogiosas considerações a uma luta e a uma forma de estar na política, que eles próprios não conseguem traduzir tais exemplos nas suas próprias vidas. Um nojo!
Ilustração: Google Imagens.

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