O Papa Francisco é, assim, um bálsamo, o alívio e o conforto através do aroma das suas palavras. Quando afirma, sem peias: "Temos de dizer não a uma economia da exclusão e da iniquidade, porque esta economia mata. Não pode acontecer que não seja notícia que um velho morra de frio na rua e o seja a queda de dois pontos na Bolsa. Isso é exclusão. Não se pode tolerar mais que se deite fora comida quando há gente que passa fome. Isso é iniquidade." (...) Não nos podemos esquecer que a maioria dos homens e mulheres dos nossos tempos vive precariamente, com consequências funestas e que o medo e o desespero se apoderam do coração de muitas pessoas, incluindo nos chamados países ricos". (...) Uma das causas desta situação está na relação que estabelecemos com o dinheiro, já que aceitamos pacificamente o seu predomínio sobre nós e as nossas sociedades", enquanto "a crise financeira que atravessamos nos faz esquecer que na sua origem está uma profunda crise antropológica: a negação da primazia do ser humano". (...) Assim, "instaura-se uma nova tirania invisível". O Papa é claro quando denuncia um desenvolvimento que designa por "globalização da indiferença".
O Papa Francisco é surpreendente. Gosto da sua visão do Mundo, da sua atitude frontal, directa, sem rodriguinhos, tudo em defesa da Humanidade. Este é o sétimo Papa da minha vida. Não tenho presente Pio XII, pois quando morreu tinha eu nove anos, mas dos restantes tenho presente o essencial dos sucessores de Pedro na Igreja Católica. Tive, sobretudo pela empatia que gerava, uma enorme consideração por João Paulo II, todavia, Francisco cria, em mim, um sentido de esperança, explicável através das acutilantes palavras e dos conceitos que transmite. Sei que não será capaz de ir tão longe quanto desejaria, mas há naquela figura, serena, doce e simpática, uma força e uma determinação que mexe comigo e que me faz acreditar numa nova ordem mundial. É difícil, muito difícil, então não é! O dinheiro não tem pátria, a ambição é desmedida, o labirinto dos interesses económicos e financeiros está para durar, a própria Cúria Romana (órgão administrativo da Santa Sé) é extremamente complexa e com histórias de arrepiar em vários sectores e áreas, onde os poderes em conflito impedem uma desejada e rápida renovação. Mas há uma voz que sai da lengalenga habitual e onde sangra, mete o dedo para sangrar ainda mais! Um dedo que funciona como despertar de consciências. O Papa Francisco é, assim, um bálsamo, o alívio e o conforto através do aroma das suas palavras. Quando afirma, sem peias: "Temos de dizer não a uma economia da exclusão e da iniquidade, porque esta economia mata. Não pode acontecer que não seja notícia que um velho morra de frio na rua e o seja a queda de dois pontos na Bolsa. Isso é exclusão. Não se pode tolerar mais que se deite fora comida quando há gente que passa fome. Isso é iniquidade." (...) Não nos podemos esquecer que a maioria dos homens e mulheres dos nossos tempos vive precariamente, com consequências funestas e que o medo e o desespero se apoderam do coração de muitas pessoas, incluindo nos chamados países ricos". (...) Uma das causas desta situação está na relação que estabelecemos com o dinheiro, já que aceitamos pacificamente o seu predomínio sobre nós e as nossas sociedades", enquanto "a crise financeira que atravessamos nos faz esquecer que na sua origem está uma profunda crise antropológica: a negação da primazia do ser humano". (...) Assim, "instaura-se uma nova tirania invisível". O Papa é claro quando denuncia um desenvolvimento que designa por "globalização da indiferença".
Estas são algumas passagens de um documento corajoso, oportuno e notável. Falou para o Mundo, mas falou, do meu ponto de vista, para dentro da própria Igreja. O documento é uma "Exortação Apostólica", um convite à acção que seja fiel aos princípios Cristãos. É um texto claramente político, porque assume uma condenação ao absolutismo dos mercados que se coloca acima das pessoas e das sociedades. Não é uma lengalenga, como tantas vezes oiço, por exemplo, pela boca do Senhor Bispo do Funchal, onde fala da caridade e mais caridade, da fé e mais fé, mas onde se esquece das causas mais profundas dos dramas sociais, da pobreza e da exclusão. Ontem, a sua mensagem assentou, novamente, na fé, naquilo "que vivemos, pensamos e fazemos à luz do dia, em paz" (...) para dizer que nos momentos difíceis do presente temos de "caminhar juntos, independentemente das dificuldades do exterior". E as dificuldades internas, Senhor Dom António, causadas por trinta e tal anos de desmandos? E os três milhões enterrados, anualmente, no Jornal da Madeira, para além dos milhões de passivo? Ora, para alguns, as palavras de Dom António podem significar muito, para mim pouco ou nada valem. É preciso que se chame os bois pelo nome, de forma elevada, é certo, mas directa. O Papa Francisco é o pastor que me contagia, por isso mesmo, enquanto Cristão e enquanto ente político. Ele sublinha: "O Papa ama a todos, ricos e pobres, mas tem a obrigação, em nome de Cristo, de recordar que os ricos devem ajudar os pobres". E mais: "Temos de dizer não a uma economia da exclusão e da iniquidade, porque esta economia mata". Esta é uma mensagem profundamente Cristã e profundamente política. A Igreja não pode confinar-se aos rituais e às palavras de circunstância, pois a sua Mensagem exige vigor, autenticidade, frontalidade, verdade e nunca, mas nunca, atitudes que se compaginem ou entrelacem com os interesses do poder(es) instalado(os).
Ilustração: Google Imagens.
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