Não há sítio por onde ande que não encontre alguém, amigos e outras pessoas que não me são próximas, cuja conversa não vá bater às circunstâncias de vida, melhor dizendo, sobre as receitas e despesas do mês, no desemprego, nos cortes forçados nos salários, nas pensões e nos impostos que todos pagamos. Normalmente as palavras são duras e muito azedas relativamente a estes governos e políticos que temos de suportar. Cruzo-me com colegas de profissão, hoje aposentados, cuja vida sofreu um gigantesco tombo, ao terem de dar acolhimento e participação nas despesas de filhos e netos desempregados, enquanto outros emigram. Aliás, o que se passa por todo o país. Assiste-se, portanto, a um ambiente de grande tensão, de sofrimento e dor. Porque se houve alguém, ao longo da vida, que gastou mais do que podia e devia, e houve, certamente, a verdade é que a esmagadora maioria não deu um passo superior à perna, viveu com contenção e a pensar no futuro e, hoje, confronta-se com uma situação absolutamente contrária às preocupações que tiveram, inclusive, de preparação de uma certa felicidade para os restantes anos de vida. Quando pensavam poder desfrutar de tempo e disponibilidade para viver com dignidade, quem governa massacra, rouba e confisca quase tudo.
Hoje, assiste-se a um descarado roubo, legal, com os cidadãos completamente indefesos. Assiste-se à falta de esperança entre a juventude, confrontados com o desemprego e a emigração. O mesmo entre casais de formação superior, claramente espoliados nas suas profissões. No essencial, tudo se resume a isto: mais trabalho e mais exigência, quando há, por menos dinheiro no final do mês. E o custo de vida sempre a subir! A carga fiscal também. Motivado por uma dessas conversas circunstanciais, consultei o sítio da internet da Direcção Geral de Contribuições e Impostos para verificar o IMI previsto para o próximo ano. Resultado: no meu caso, aumentou quase três vezes. E como eu, tantos para não dizer todos. Como é possível? Como é possível que um cidadão que construiu (ou adquiriu) a sua habitação, pagando todos os impostos e taxas municipais, que pagou, directa ou indirectamente, todos os materiais de construção, tendo dado trabalho e tendo pago os encargos definidos na contratualização bancária, depois de tudo isto e de muitos sacrifícios, acabe por ser inquilino do próprio Estado através de uma contribuição municipal? Qual a lógica? Só há uma palavra: ROUBO!
E dou comigo a pensar naquelas famílias de baixos rendimentos, com filhos, se empregados, como poderão sobreviver? Como poderá uma família fazer deslocar um filho para uma universidade quando as propinas quase chegam a € 100,00/mês? E as deslocações? E os livros e os encargos de manutenção? E junte-se a isto, as despesas do mês, os seguros de vida e outros, esse IMI que leva, todos os meses uma parcela do rendimento, o confisco em sede de IRS, enfim, como é possível trabalhar seis meses para entregar ao Estado? Só há uma palavra: LADRÕES!
E ouço-os palrar, todos os dias, dizendo que estamos no bom caminho, que mais seis meses e verão que valeu a pena passar por todos estes sacrifícios. Pois, dentro de seis meses estaremos próximos do Verão, enquanto estação do ano, mas no inverno da vida. E eles enganam-nos com aquele ar de pretensa verdade, com aqueles discursos ocos e bacocos, com aquele fácies que parece transmitir honestidade. Só há uma palavra: ALDRABÕES.
Os meus amigos e outros com quem me cruzo têm razão quando me dizem que isto não vai a bem. Infelizmente, digo eu, na esteira do que outros têm referido, a violência vem a caminho. E não será apenas por estas bandas. Nos primeiros meses do próximo ano, quando os portugueses se confrontarem com a dura realidade resultante do Orçamento de Estado e do Orçamento Regional para 2014, parece-me natural que a revolta venha a acontecer. Infelizmente o digo, porque prezo a paz.
Ilustração: Google Imagens.
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