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sábado, 14 de fevereiro de 2015

O ESPÓLIO DO DR. ANTÓNIO ARAGÃO. PEÇAS QUE NUNCA DEVERIAM SER LEILOADAS


São mais de 700 peças que vão a leilão. Assume o leiloeiro que este será “(...) um dos leilões mais mediáticos em virtude de 70% das peças serem peças de museu, peças para coleccionadores”. Leio no DN-Madeira, um trabalho da jornalista Paula Henriques: "são pedaços da vida do conhecido pintor, escultor, poeta, historiador e investigador madeirense, uma figura de relevo das artes e da cultura (...) arte figurativa, abstracta, pinturas do séc. XVII e XVIII, arte sacra com peças desde o séc. XVI. No conjunto há verdadeiros tesouros, como um original de Vasarely – a peça mais mediática do conjunto (...)". Sabia deste leilão e lamento, profundamente, que a Região, através do Governo Regional, não se tivesse posicione.


Não faço qualquer juízo de valor, mas sei que a Região Autónoma da Madeira, salvo erro em 2002, adquiriu um palacete do século XIX, para albergar as memórias de vida de João Carlos Abreu, ex-governante. E não faço, também, qualquer juízo de valor a Alberto João Jardim que herdou a casa da mãe, falecida em 2006, alienando-a à Fundação Social-Democrata por € 140.000,00, que por sua vez está a transformá-la num museu dedicado ao seu antigo proprietário, presidente do Governo Regional da Madeira. A ideia, li algures, é a de "colocar na casa-museu uma exposição das placas, medalhas e outros objectos oferecidos ao governante madeirense (...) recriando o mais fiel possível, a vida e a obra do homem que dirigiu os destinos do arquipélago da Madeira". Percebem-se as razões políticas.
Ora, com o devido respeito pelo percurso de vida destas duas figuras, o de António Aragão é singular. E o governo, moita! Sepulcral silêncio. Aquelas 700 peças deveriam constituir um espaço de memória desta importante figura madeirense. É caro, muito caro, pois é. Mas é um madeirense, nascido em S. Vicente (1921/2008), ex-director do Arquivo Distrital do Funchal (agora Arquivo Regional da Madeira). A sua produção artística não deveria ficar espalhada por aí. A cultura agradecia e seria uma forma de perpectuar a sua memória. O historiador Doutor Rui Carita recordou-o como "(...) uma das grandes figuras da cultura portuguesa do século XX". E a Região da Madeira, moita!
Quando fui Vereador da Câmara Municipal do Funchal, muito antes da sua morte,  propus a Medalha de Mérito Municipal Ouro da Cidade ao Dr. António Aragão. O presidente da autarquia de então, Dr. Miguel Albuquerque e a sua equipa chumbaram a proposta. Ficou-se pela designação de um arruamento. Não fiquei admirado. E, neste momento, estou quase certo que não vou assistir a um movimento que trave este leilão. Fico com pena. Para mim é claro que para a Região a cultura conta muito pouco. Importante é ter futebol profissional e túneis, inclusive, na cabeça das pessoas. (ler aqui um texto do Dr. Rui Nepomuceno)
Ilustração: Google Imagens.

2 comentários:

Fernando Lima disse...

Li agora a sua prosa.
Deixemos passar menos de cinco anos e continuaremos a ver crescer o nome de António Aragão, ocorrendo o inverso no nome e memória do Alberto Jardim. Medalhas, placas?
Nos leilões em Lisboa e Porto, dos últimos quinze anos, com tendência de continuar, as placas, comendas, medalhas do António Salazar e de muitíssimos outros, não aparecem interessados.
Porquê?
Porque estes objectos não têm valor cultural (importantíssimo) e sentimental (apenas em pessoas muito próximas).
Do António Aragão, o legado cultural já ultrapassou as fronteiras portuguesas e continua.
Albertos?
Estes não passam do Funchal.
Pobrezinhos.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Nem mais...