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domingo, 8 de novembro de 2009

EDUCAÇÃO: UMA QUESTÃO MUITO SÉRIA

"Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses."
"A esperança é uma droga alucinógena". Rubem Alves.
Na sequência das declarações produzidas pelo Deputado do PSD-M, Dr. Jorge Moreira, a propósito do Regime Jurídico do Sistema Educativo que o grupo parlamentar do PS apresentou na Assembleia Legislativa da Madeira, solicitei a publicação da seguinte carta do leitor, hoje integrada na edição do DN-M:
"No plano democrático, parece-me lamentável que um diploma estruturante do Sistema Educativo Regional, antes de discutido na generalidade e de ouvidos os parceiros sociais já esteja condenado ao chumbo. E, depois, negam a tal "asfixia democrática". Vamos por partes:
É óbvio que a sobrevivência da Região passa, inevitavelmente, pela Educação. A ignorância é sempre mais cara. Ora, se esse deve ser o desígnio principal da Região, repercutido em sede de orçamento, o que se impõe é um novo paradigma organizacional que torne o sistema mais eficaz e mais eficiente. Nesse conceito, se necessário forem mais docentes, óptimo, desde que os resultados sejam a consequência do rigor, da qualidade e não aqueles que nos colocam, hoje, em desprestigiantes lugares dos "ranking's" nacionais (em 30 escolas do ensino básico, apenas uma está abaixo do 215º lugar e temos 21 entre o 746º e 1236º lugar de uma lista de 1292 escolas. E no secundário (16), a primeira está 135º lugar e temos 13 entre o 305º e 593º lugar de uma listagem de 599 estabelecimentos de ensino. E a culpa não é dos professores é do sistema que impuseram.
O sistema que nós propomos não é o do "facilitismo", antes o da excelência da escola pública. Não existe, por isso, "irrealismo", mas a transposição para o nosso sistema regional autónomo dos caminhos que outros percorreram com total sucesso. É neste pressuposto que defendemos, face à pobreza persistente, o ensino gratuito para os três primeiros escalões do abono de família, a simbólica comparticipação nos restantes, sempre compaginados com o rigor e a responsabilidade parental, de uma escola que forme para a vida. É preciso compreender o que se está a passar na sociedade e sobretudo ler todo o diploma, o qual funciona como um acordeão de medidas. Extrair partes, apenas proporciona confundir e não esclarecer. É o caso da dimensão dos estabelecimentos de ensino e do número de alunos por turma. Com alguma maldade, diz o Dr. Jorge Moreira, que nós advogamos a demolição das escolas Francisco Franco e Jaime Moniz. Não, o que está em causa é o reordenamento da rede escolar, tornando as escolas adequadas a uma gestão pedagógica de qualidade. O grande é ingerível e os alunos e professores tornam-se números.
Finalmente, quatro notas: primeira, o diploma fala de batas e não de uniformes clássicos; segundo, o regime jurídico proposto pelo PSD, em 2007, são dezanove páginas desconexas e que sofriam de "inconstitucionalidade formal, procedimental, orgânica e material". Foi dada razão ao PS e o PSD meteu-o na gaveta; terceiro, não deve o Dr. Jorge Moreira confundir a autonomia das escolas plasmada no Regime com excessiva regulamentação. O que o Regime Jurídico defende, em todos os artigos, são questões de princípio nos planos organizacional, curricular e pedagógico; quarto, trata-se de uma proposta que passou pelo crivo de professores, de juristas e de várias conferências sobre os temas agora condensados em proposta legislativa. Não se trata de uma proposta leviana. O estudo e a sua discussão poderão melhorá-la, substancialmente, porque em causa está o futuro da Região e porque com a Educação não se deve brincar".
Foto: Google Imagens - Olhando o futuro.

6 comentários:

Josualdo Jesus disse...

Sr. Professor.
Ao dizer que escolas com mais de 500 alunos são ingeríveis está a colocar em causa o trabalho de colegas seus nessas escolas.
Não estão a ser geridas?
Estão a ser mal geridas?
E o que se passava há anos atrás quando havia ali muitos mais alunos antes das reduções que se tem realidado gradualemnte?
Depois disso, o que esperava ouvir do Deputado Jorge Moreira?
Acha que ele tem de ouvir a calar?

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
O Senhor Deputado Jorge Moreira não deve ouvir e calar. Tem é de argumentar. Eu nunca ofendi o Senhor Deputado Jorge Moreira, mas já me senti ofendido, pelas palavras ditas.
Escolas com mais de 500 alunos são ingeríveis. Obviamente que sim. Dizem todos os investigadores em política educativa. Até as empresas se querem pequenas embora façam parte de um grande grupo económico.
Só o esforço dos professores é que tem aguentado a irresponsabilidade de continuar a construir escolas sobredimensionadas.

Josualdo Jesus disse...

Mas que escolas grandes?
Jaime Moniz, Francisco Franco?
Essas já existem há dezenas de anos...
Horácio Bento, Bartolomeu Perestrelo?
Mas essas foram remodeladas tendo até sido reduzido o seu número de alunos...
Então é mesmo para demolir e tem razão o Deputado do PSD...

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu novo comentário.
Não fui eu que falei dos referidos estabelecimentos de ensino. Nem eu nunca falei de demolições. Eu falo de um novo reenquadramento da rede escolar.
O erro tem sido esse, por motivos economicistas, remodelar as escolas de que fala mas mantendo números de alunos que, em alguns casos, são o triplo do que deveriam ter.
Por favor, discutamos a Educação com seriedade e não de uma forma partidária como parece ser o caso.

Josualdo Jesus disse...

Mas que seriedade haveria se na remodelação de uma escola ficassem 2/3 dos alunos "na rua"?
Podemos ser idealistas com os pés no chão...
As escolas são construídas para responder às necessidades presentes. Como há cada vez menos alunos, haverá cada vez mais espaços no futuro e escolas com menos alunos.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu novo comentário.
Desconheço a sua profissão. Presumo que seja docente pelo interesse que estes assuntos lhe despertam.
Como sabe e compreende, ninguém fica na rua, nem uma lei é feita para ontem. A lei visa o futuro, tem por objectivo acautelar o futuro, corrigindo sempre que possível os erros do passado. É isso que está em causa. A Lei aponta um caminho, não se faz por idealismo bacoco mas por uma questão de sensatez e dos dados que a investigação vai produzindo.
Concordo com esta sua frase: "As escolas são construídas para responder às necessidades presentes". Exactamente. Só que devem ser construídas de acordo com um paradigma que garanta sucesso. É isto que está em causa e que os investigadores não se cansam de defender.