Li uma justificação desnecessária (aqui). Entendo que cada um segue o caminho que quer e entende. À população compete analisar os comportamentos sociais e políticos. Se antes, face ao menu partidário, embora com vestes pressupostamente "independentes", há quem preferisse o prato A ou B e, agora, prefira o C, esse é problema dos próprios. Se a exteriorização pela cor do vestuário político aproxima-se do rosa, azul ou laranja, se é monárquico ou republicano, pouco me interessa. Preocupa-me sim a coerência e a estrutura do pensamento político, a leitura do global e do local à luz da história do processo, a riqueza da experiência vivida, a transparência e se é ou não portador de um projecto. Portanto, uma justificação para quê? Paleio que, ao contrário do pretendido, apenas veio contribuir para a alta definição da personagem política.
Li e senti, confesso, uma enorme repulsa política pela entrevista a si próprio. Ao ponto que se chegou, exclamei! Mas com esta política dos políticos confesso que passo bem. A urticária vai em um ápice, dura o tempo da leitura, porque a minha felicidade é superior ao que se passa na frente dos meus olhos observadores e também porque há muito assumi que tudo tem o seu tempo e que eu já tive o meu tempo político. Conservo, apenas, os meus princípios e valores. Por isso afastei-me da política activa e, quando convidado, respondi: em função da esperança média de vida, se tudo decorrer bem, faltam-me o equivalente a três legislaturas; prefiro passá-las cá fora do que no mundo, muitas vezes conspurcado, do exercício da política. Mas, ao meu jeito, atento e distante da necessidade de vender-me aos bocados, como escreveu Luís Sttau Monteiro, in "Angústia para o Jantar" .
A trova (de Manuel Alegre) sublinha: "Mesmo na noite mais triste... em tempo de servidão... há sempre alguém que resiste... há sempre alguém que diz não". Para mim basta-me isso como reflexão permanente, mesmo quando os contextos são diferentes, a partir do que foram estes 40 anos de falso crescimento e de desenvolvimento débil, de Autonomia vendida a pataco, de liberdade condicionada à voz do dono, de insultos e provocações de um regime absoluto e extremamente tentacular ao qual muitos se vergaram. Basta-me isso, quando vejo novos alinhamentos oportunistas de uma falsa, repito, falsa "renovação", com velhos políticos na rectaguarda, de batuta em punho, a querem continuar "donos disto tudo", misturados com altifalantes portadores de uma pretensa "coragem e determinação". Portanto, quando se escolhe um "porto de destino" parece-me óbvio que várias questões devam ser colocadas: no mínimo, porquê, como e com quem?
Não há novo "ciclo político". Essa é a grande mentira embrulhada em celofane laranja. Só existirá um novo tempo quando os culpados saírem pela porta pequena e forem responsabilizados pelos seus actos e omissões. É assim na vida privada e deve ser assim na vida pública. Esconder facturas e ter a Justiça à perna não é, certamente, um bom cartão de visita. Não se pode falar de um novo ciclo político quando, travestidos, os mesmos se encontram à volta da gamela pública, quando a mesma raiz partidária deixa a Região em sofrimento, pobreza e desemprego, atolada em dívidas impossíveis de liquidar, a Educação e a Saúde de rastos e as autarquias sem margem de manobra financeira. Só o Funchal, segundo dados vindos a público, as dívidas ascenderam a mais de 94 milhões de euros. São estes que se perfilam e que à boca cheia falam de um "novo ciclo". Os mesmos que não respeitaram os vários instrumentos de planeamento, aí estão a falar de um "novo ciclo" e a prometerem, levianamente, reduzir a dívida regional a 60% do PIB nos próximos anos. Só não dizem, como! Mas, enfim, há gostos para tudo e estômagos que digerem bem. O meu, confesso, tem uma sensibilidade tal que não consegue. Certas coisas provocam-me asia política.
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