Não foi a primeira vez que o candidato do PSD, Dr. Miguel Albuquerque, teceu considerações relativamente ao desempenho das autarquias lideradas por partidos que assumiram a responsabilidade de governar sete das onze câmaras da Região. Ainda ontem, em Câmara de Lobos, atirou-se à "Mudança" vitoriosa no Funchal, sublinhando a "esclerose executiva" que paralisou (!) o Funchal. Pois, a memória é curta ou oportunista. Para quem deixou o Funchal com € 94.000.000,00 de dívidas, desordenado, assimétrico e com sucessivas machadadas no património histórico, o melhor teria sido estar caladinho. Eu não sinto a paralisação. O Funchal não parou, tal como os outros seis concelhos. Pelo que leio, as dívidas estão a ser saldadas, porque as empresas têm de funcionar e os postos de trabalho são muito mais importantes que qualquer obra que não se enquadre nas prioridades. O candidato do PSD deveria, isso sim, explicar à população aquelas continhas que justificavam a Câmara ter, sucessivamente, saldos de gerência positivos. Dava lucro, dizia!
Julgo que qualquer cidadão deveria conhecer tais engenharias financeiras antes das eleições legislativas, porque quem as fez na Câmara tenderá a repeti-las no governo. Foi assim que se chegou a mais de seis mil milhões de dívidas e a uma penosa dupla austeridade. Está na designada "massa do sangue" político o posicionamento do então "chefe" Jardim, que sempre assumiu como necessário fazer obra pública, dar nas vistas e inaugurar, mesmo que o povo esteja mal. Endividar a Região mais do que ela está, parece ser o desígnio de Miguel Albuquerque. É, por isso, que ainda ontem falou da "nossa obra", pelo que, avisou, cuidado a 29 de Março, porque "não podemos brincar aos partidos". Ora, brincar com o povo foi o que aconteceu durante quase quarenta anos de sucessivas maiorias absolutas. Não obstante isso pede, todos os dias, mais uma maioria como se fosse possível fazer um "resert" à memória colectiva, esquecendo, inclusive, que quem o acompanha são os mesmos que permitiram que a Madeira se encontre financeira e socialmente bloqueada. Se há dez anos o candidato do PSD tivesse afrontado e demarcado do poder regional, hoje, teria alguma legitimidade. Da forma como tudo se processou, o que resta tem muito mais a ver com a necessidade de poder de uma teia partidária ardilosamente montada, do que propriamente com questões de projecto político. O candidato do PSD, do meu ponto de vista, serve, claramente, esses interesses paulatinamente instalados.
Por outro lado, é curioso que, agora, prometa debates quinzenais na Assembleia Legislativa, assunto há tantos anos reclamado, mas a verdade é que durante vinte anos na Câmara Municipal do Funchal, apesar da insistência dos vários partidos, nunca tivesse abrido mão dessa possibilidade democrática de, no "Dia da Cidade" dar espaço para a intervenção de todos os partidos representados na Assembleia Municipal. Nem a mesa da Assembleia Municipal contou alguma vez com uma distribuição representativa das forças partidárias. E quanto a pelouros atribuídos à oposição, bom, aí trancou o sistema a cadeado. Fechou-se, em total concordância com o Dr. Jardim, que nunca permitiu que, na Assembleia Legislativa, a voz dos eleitos se fizesse ouvir. Pergunto, então, que passado de luta e que posicionamentos foram assumidos para que a população acredite nas palavras agora ditas?
Há aqui uma espécie de lobo com pele de cordeiro. Politicamente, claro. A personagem serve às mil maravilhas aos que estão fora do palco e mesmo àqueles que se apresentam travestidos de "cristãos-novos". Pessoalmente, no plano político, não enganam, porque serão amanhã aquilo que sempre foram. A matriz do comportamento político está lá e, por mais retoques de maquilhagem, não conseguem alterar o que sempre foram. O povo será soberano na sua decisão. Os actos eleitorais devem servir para julgar. Que o povo julgue!
Ilustração: Google Imagens.
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