O capitão de Abril, Vasco Lourenço tem carradas de razão: se estão satisfeitos "com a porcaria que têm feito" devem continuar juntos. Aos olhos do povo português esta é a realidade, bastando para tal ter presente todos os indicadores do país que éramos e do país que somos. Aliás, retenho nos ouvidos tudo quanto Passos Coelho disse e prometeu durante a campanha eleitoral de 2011 e tudo o que concretizou após a sua eleição. Não melhorámos, não gerámos riqueza, não nos tornámos mais competitivos, não esbatemos a pobreza, não criámos mais emprego, não melhorámos a dívida face ao produto e não abrandámos os números da emigração. Piorámos nos direitos sociais, roubaram-nos nos salários e pensões e piorámos no acesso à saúde e à educação. Esta a realidade factual.
Aliás, governo que depois de quatro anos ainda continua a olhar para o passado, para o anterior governo, que não fala da crise internacional a partir de 2008 que varreu a Europa, que não assume os seus erros, que não demonstra qualquer pingo de solidariedade por aqueles que mais sofreram com as suas políticas, pergunto, se é merecedor de uma qualquer confiança? Governo que não demonstra capacidade para perceber os erros dos directórios europeus e que apenas se limita a curvar-se às lógicas liberais de uma Europa conspurcada por interesses, pergunto, se é merecedor de uma qualquer confiança? Governo que roubou nos salários e nas pensões, reduziu direitos sociais, forçou a emigração, penalizou empresas, carregou no IVA, no IMI, no IRS, colocou os sistemas de educação e de saúde na penúria, pergunto se é merecedor de uma qualquer confiança? Governo que não tutelou como devia alguns sistemas, inclusive, o bancário, pergunto se deve ser merecedor de confiança?
Este casamento de interesses assenta em uma premissa, exactamente a que deriva da leitura que ambos dominam a "porcaria que têm feito". Isoladamente, pressuponho, os resultados seriam desastrosos, talvez piores que os das eleições europeias. Trata-se, apenas, de um pressentimento. E vai daí uma coligação, que não deixa de ser legítima, mas que tem um óbvia e concreta leitura política. Vasco Pulido Valente escreveu que "(...) os portugueses, coitados, quanto mais pobres ficam, mais querem dar ares de grandes senhores". Será que vão, nas urnas, perceber a marosca destes senhores?
Ilustração: Google Imagens.
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