Recebi uma interessante mensagem que a páginas tantas refere: “(…) não será de deixar o governo provar para depois criticá-lo?”. Meu caro, penso que não. Todos nós temos uma experiência de vida e todos nós que, de uma maneira ou de outra, acompanhamos o dia-a-dia político, sabemos que os silêncios, o arrastar dos designados “estados de graça” são péssimos para a democracia. É desde o primeiro dia, não no pressuposto do combate pelo combate político, sem eira nem beira, que os políticos devem sentir essa pressão. Lembra-se, por exemplo, do que disse Passos Coelho antes de ser eleito? E o que ele fez logo a seguir? E aquele que ficou conhecido pelo “irrevogável”? E aqueles que, na Região, conduziram-na na lógica “ou nós ou o caos”? Aqueles que estrangularam o livre pensamento, algumas vezes subtilmente, outras, descaradamente, ao longo de quase quarenta anos, bloquearam as instituições públicas e privadas, conduzindo o povo no princípio da obediência cega e do medo? Se o travão tivesse sido colocado logo de início teria acontecido o mesmo? Julgo que não. Daí que, da minha experiência política, considere que não deve haver nem “estados de graça” nem contemplações.
Assumiram, livremente fizeram as suas escolhas, tomaram posse, pressuponho que estudaram e dominam os dossiês, logo exige-se-lhes rigor, trabalho e uma visão sobre o futuro que, alegadamente, desejam construir. Quando, pelos primeiros acordes se descobre a musiquinha que querem tocar, quando a pele de cordeiro deixa transparecer o lobo, parece-me elementar que não se deixe o marfim correr. Desde os excessos às omissões, sublinho. É esta a minha atitude. Mais, ainda. O que de bom fizerem, porque há sempre decisões correctas, nem essas devem ser motivo de elogio político. Os eleitos estão lá para cumprir mandatos, programas, enfim, para trabalhar em prol do crescimento e do desenvolvimento do país, da região, da Câmara ou da Junta de Freguesia. Ninguém lhes pediu e são pagos para cumprir. Em toda a minha actividade política nunca esperei reconhecimento, da mesma forma que, como docente, cumpri todas as exigências do sistema educativo, mesmo quando não concordava com os retrógrados procedimentos. Na política não se deve permitir espaço para o erro. Aliás, pelos sucessivos escândalos que colocam os políticos em um baixo grau de aceitação popular, enquanto cidadão, entendo que os devemos colocar em pressão contínua. Porque o exercício da política é um assunto muito sério. Não é uma passerelle de vaidades. É nesta dialéctica que se constrói a democracia e se promove o tendencial bem-estar das populações. O julgamento é feito nas urnas, de quatro em quatro anos. E esse julgamento, pelo menos em teoria, envolve o poder, mas também a oposição. Ambos são julgados.
Ilustração: Google Imagens.
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