Não acredito na sinceridade que os novos velhos dignitários da Região querem demonstrar, através de uma comemoração, aberta a todos os partidos, na sede da Autonomia da Madeira. Ainda bem que o fazem, sublinho, depois de trinta e tal anos de rigoroso silêncio e muitas vezes de afronta àquela data. Basta ler o diário das sessões da Assembleia e tomar consciência dos sucessivos chumbos às propostas de comemoração e as razões invocadas. Anos houve que comemoraram, pasme-se, a 24 e a 26 de Abril. Por isso, os mesmos de sempre, entre os quais o novo Presidente da Assembleia e o líder da bancada do PSD, não podem estar a ser sinceros. Nem eles nem Miguel Albuquerque que nunca aceitou, por exemplo, no Dia da Cidade do Funchal, que os partidos pudessem ter voz. Foram anos a fio de clara negação, quando a Autonomia é filha de Abril.
Estes factos transportam um claro posicionamento político com história, trazem no seu bojo a ideia que se consubstancia em uma oportunidade para demonstrar, no âmbito da tal "renovação", uma diferença no comportamento (como se nada tivessem a ver com o passado), porém, dir-se-á que não emerge de dentro, não está registado na matriz democrática da instituição política. Faz parte da imagem, do marketing, do fumo que desejam vender. Não mais do que isso. Salazar foi aquilo que se sabe e Marcelo Caetano, com as suas "conversas em família" e pretensa abertura, foi a continuidade que acabaria por ser denunciada, pouco tempo depois, em Abril de 1974. Outra leitura teria eu se, todas aquelas pessoas que fazem parte da continuidade, há dez, quinze, vinte anos, se tivessem distanciado, marcado a sua posição e afrontado quem assim decidia. Não foi isso que aconteceu. Curvaram-se, aceitaram o pressuposto que as comemorações justificar-se-iam, apenas, na Assembleia da República (nada de confusões na Assembleia Legislativa da Madeira), e nunca tiveram a audácia de atacar de frente os mentores da guerrilha institucional. Teriam assumido uma veemente condenação pelo encerramento da Assembleia naquele dia que, por extensão, sempre motivou comemorações partidárias à sua porta. Os mesmos que nunca levantaram a sua voz, agora, apresentam-se como indefectíveis defensores de Abril. Não enganam!
Mas que não seja sol de pouca dura simplesmente porque, tal como escreveu Maria Teresa Góis (DN-Madeira), “(…) É preciso que os mais novos conheçam a realidade do país antes de Abril de 1974, um país isolado e atrasado que muito recuperou três décadas depois, para que os “jotinhas” de vida facilitada tenham a noção do quanto as gerações anteriores sofreram e lutaram. Quero ABRIL de volta, na alegria, na esperança, no convívio sem medos, na Liberdade! (…)”
Ilustração: Google Imagens.
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