O Senhor Representante da República na Madeira pode não gostar do PND e de outros partidos ou pessoas que, politicamente, escrutinam a sua participação política. Eu sou um deles que, manifestamente, não tenho uma opinião política favorável. Simplesmente porque entendo que não tem sido isento e colaborante na defesa da verdadeira democracia. Ontem, o Senhor Representante pareceu-me imbuído do espírito político do Dr. Alberto João Jardim, ao impedir que o porta-voz daquele partido fizesse declarações à comunicação social no espaço interior do Palácio de S. Lourenço. Situação que contrasta com o que habitualmente se verifica com todos os outros partidos políticos. Não encontro razões para aquela decisão, a não ser uma atitude de repulsa por declarações anteriores.
Ora, o Senhor Representante da República é um ente político, não é uma entidade privada. O palácio não é dele, mas sim da comunidade portuguesa. Se não gosta de certos partidos, em circunstância alguma deve manifestar essa intenção. Se o partido A ou B não lhe são queridos, politicamente, tem o dever de os aceitar tal como são, desde que a análise seja política e não entre no espaço da má educação e da ofensa. Se o Senhor Representante detesta os partidos de uma cor fora da tonalidade laranja, até isso tem remédio, apresenta a sua renúncia junto do Senhor Presidente da República. Tão fácil quanto isto. O que não pode é fazer juízos de valor ou ficar ofendido por, repito, politicamente, dizerem o que pensam. Nada, rigorosamente nada de pessoal me move contra o Senhor Representante. Respeito a instituição, mas isso não significa que diga sim aos comportamentos ou ausência de comportamentos políticos. É assim que sinto a política.
Curiosamente, o gabinete do Representante da República explicou, posteriormente, ao DIÁRIO, segundo li, que não são permitidas declarações à imprensa no pátio do Palácio de S. Lourenço. Estranho, quando sempre, sempre, essas declarações foram realizadas à saída das audiências e até em uma sala do palácio. Eu próprio já produzi declarações nesse salão de acesso à sala de audiências. Resultado da sua atitude, já no exterior, o partido em questão atirou-se sem dó nem piedade: "(...) Entristece-nos que uma pessoa, ainda por cima madeirense, tenha cumprido e desempenhado tão mal as funções de Representante da República. Esteve durante quatro anos calado perante todas as atrocidades cometidas nesta terra. Calado, designadamente, perante o gigantesco buraco de dívida ocultado de todos os madeirenses e que condenou a Madeira à miséria", afirmou Baltasar Aguiar, que sugeriu, sarcasticamente, que Ireneu Barreto "fosse designado embaixador para Angola, para branquear o regime totalitário do senhor presidente José Eduardo dos Santos". Bem poderia ter evitado, digo eu, pois se o PND compareceu, mas não quis ser recebido, parece-me óbvio que desejasse tornar pública a justificação para a sua não participação na audiência.
Mais tarde surgiram as suas declarações após receber o próximo presidente do governo regional. Referiu-se ao "novo ciclo" (qual ciclo, Senhor Representante, quando o partido é o mesmo?) e disse depositar "muita esperança na Região" (...) porque "a Região passou, digamos, da pré-história para a modernidade (...)". Declarações que deveria ter evitado, porque elas correspondem, claramente, a uma colagem partidária. Esquece-se o Senhor Representante dos milhões de euros entrados na Região provenientes da União Europeia e do Orçamento de Estado? Esquece-se do monstro criado na Região do qual resultou uma dívida de mais de seis mil milhões de euros? Esquece-se que mais de mil milhões de facturas não foram reportadas (escondidas)? Esquece-se do desemprego e da pobreza? Com todo este quadro, que é inegável, como pode dizer que "(...) só quem não governa é que não erra (...) mas o saldo, na minha opinião, é muito positivo". Positivo em quê? Na mentalidade, na liberdade, no medo, no controlo das instituições, ou teria sido possível realizar, com os mesmos meios, muito mais e com outra sustentabilidade, não tendo os madeirenses e portosantenses que carregar uma penosa dupla austeridade?
O cargo de Representante da República há muito que deveria ter sido extinto. Não faz sentido ter um "olheiro político" na Região Autónoma, cargo que tem custos, ainda por cima para o "olheiro político" assobiar para o lado quando são tantos os problemas da Região. Se o objectivo é verificar a legalidade e constitucionalidade da legislação produzida na Madeira, a Assessoria para os Assuntos Jurídicos e Constitucionais da Presidência da República, constituído por quatro assessores, resolveria tal assunto. A Presidência dispõe de dezenas de assessores, pelo que, questiono, que sentido tem a existência de um Representante?
E por aqui fico, porque tenho presente, com todos os contornos, a atitude política do Senhor Representante ao longo dos anos que representa a República na Região.
Ilustração: Google Imagens.
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