A secretaria da Educação da Madeira, parece-me um "hospital" que, para problemas complexos, apenas tem pensos rápidos e uns analgésicos para todas as dores! E tenta disfarçar os reais problemas com alguma azáfama, correndo atrás das situações, mas de insucesso em insucesso. Aliás, já que escrevi a palavra insucesso, sou levado a dizer que o insucesso dos alunos começa, exactamente, no insucesso político de quem tem a responsabilidade de pensar o sistema. Surgem notícias de protocolos vários, leio notícias sobre a presença do secretário aqui e ali, mas não dou conta de uma única iniciativa que, transportando uma ideia estruturante de mudança, se me afigure credível e portadora de futuro. Enfim, propaganda e mais propaganda. Melhor dizendo, encontrando-se o sistema em um cruzamento, a secretaria da Educação dá a entender que não sabe o caminho a seguir. É lamentável.
A secretaria actua nas margens e esquece o âmago. Esquece o que realmente está em causa. A cereja em cima do bolo do desnorte foi colocada, ontem, com a iniciativa denominada por "Referencial de aferição da qualidade do sistema educativo da Região Autónoma da Madeira". E o secretário explicou: trata-se de "(...) percebermos quais são as nossas debilidades para que possamos evoluir e construir um modelo de sucesso". Trata-se de "encontrar soluções e desenvolver análises" de modo "a encontrar aquela que é a solução mais adequada à nossa circunstância". Ora bem, desde logo, lamentavelmente, quase quarenta anos depois da regionalização do sistema, o governo denuncia, como é vulgar dizer-se, que anda à procura da rolha. Com um pormenor, não fala de um novo paradigma, mas de um "modelo", quando todo a estrutura governativa deveria saber que um "modelo" é qualquer coisa estática pela qual uma organização se guia "step by step". Hoje, passados tantos anos, deveria a secretaria ter presente que os processos são dinâmicos, que não existem duas escolas iguais (os públicos são diferentes, os locais, idem, bem como os corpos docentes) e que a "aferição da qualidade" constitui, apenas, uma componente de um projecto de longo prazo onde subsistam: 1. uma ideia de futuro; 2. objectivo; 3. estratégia; 4. programa; 5. execução; 6. finalmente, a avaliação que corrija e introduza novos elementos a todo o momento. Ora, se não existe, de forma consistente e sensível todos os pontos anteriores à avaliação, como pode a secretaria querer aferir a qualidade? Onde está, de forma clara e explícita, (o programa de governo é completamente omisso) o planeamento plurianual, nas suas fases de preparação, elaboração, execução e controlo? Onde se encontram definidas as estruturas lógicas das tarefas a serem executadas? Como é possível perceber as interdependências? Os tempos e espaços? Os responsáveis? Os inícios e os términos das diversas tarefas? Nada disto é perceptível e vem o secretário regional falar de "aferição da qualidade" (fase do controlo), quando tudo para trás não existe ou, com muita boa vontade, é nebuloso e rotineiro.
Independentemente de todos estes aspectos, a questão essencial é muito mais profunda e resume-se, em primeiríssimo lugar, perceber o que é que este governo pretende fazer com este sistema educativo, absolutamente caduco. É que o secretário quer, repito, "encontrar soluções e desenvolver análises" de modo "a encontrar aquela que é a solução mais adequada à nossa circunstância", quando o problema está muito longe de ser esse. Fundamental seria, pelo conhecimento científico que existe, projectar um sistema de mudança, de ruptura com os procedimentos ultrapassados, integrado e compaginado com todos os restantes sectores (social, entre outros), de tal forma que, respeitando o princípio da transformação graduada, daqui por três ou quatro legislaturas, o sistema pudesse demonstrar eficiência, eficácia e resultados. Tentar encontrar "debilidades" em um sistema que está morto, é tempo perdido. Por outras palavras, é tentar construir a casa pelo teto!
Ilustração: Google Imagens.
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