Apenas um desabafo na sequência de algumas leituras de circunstância sobre o Papa Francisco. Pensamento enrola-se em pensamento e lá dei eu a confrontar posturas, a do Papa Francisco com a do Bispo António Carrilho. O Papa consegue encher-me, pela sua visão do Mundo, sobre o inteligente ataque às causas dos problemas, sobre a forma como combate o imobilismo e sobre a sua atitude frontal relativamente aos poderosos da economia que nem poupam o Vaticano. O Papa tem a leitura de um Mundo que sobrevive no caos e que fomenta a desesperança e, por isso mesmo, não deixa escapar uma oportunidade para fazer ouvir a sua voz. Mesmo em tempo de fuga de informação e de documentos que revelam extravagâncias financeiras e corrupção no Vaticano, mantém-se "determinado" a avançar com as reformas da Igreja. "Vamos em frente com serenidade e determinação", assumiu, dando a entender que a Sua missão sobreviverá à teia corrupta.
Já o Bispo Carrilho que, agora, nem tem a sombra (condicionadora) chamada Alberto João Jardim, lidera um processo rotineiro e previsível, absolutamente distante da realidade política, económica e social, como se nada estivesse a acontecer na Diocese de uma terra que necessita ser agitada, tantos são os gravíssimos problemas sociais que enfrenta. São palavras do Papa Francisco "(...) Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e solidário". Ora, esta preocupação não encontra eco na Madeira, quando deveria constituir a mensagem central. Não é com fé e caridade, Senhor Bispo, que se resolvem os problemas, antes pela assunção e contextualização da Palavra, tal como o Papa Francisco aconselha: "(...) Eu quero que a Igreja vá para as ruas, eu quero que nós nos defendamos de toda acomodação, imobilidade, clericalismo. Se a Igreja não sai às ruas, converte-se em uma ONG. E a Igreja não pode ser uma ONG". A questão é saber como é que a Igreja desce à rua, isto é, desce às pessoas, agitando-as nas causas dos seus dramas, gerando o necessário desassossego e colocando em sentido o poder político. "(...) Não tenho ouro nem prata, mas trago comigo o mais valioso: Jesus Cristo", disse Francisco. E se traz Cristo, obviamente, que transporta essa Mensagem profunda, que a muitos incomoda, embora batam repetidamente no peito. Eu desejaria essa inquietação nesta Diocese, na esteira do que sublinha o Papa: "Não deixe que ninguém tire a sua esperança". E há quem nos esteja a roubar a esperança, seguindo os caminhos do silêncio que compromete. Porquê? Porquê? Porque há pedras no sapato, desde a incómoda situação do Jornal da Madeira até às dívidas pela megalomania na construção de novos templos?
O Bispo Carrilho, com lamento o digo, não é a figura que a Diocese precisa. A Igreja é muito mais que os rituais e orientações bafientas. Ela tem de ser política porque Cristo foi um político de primeira água. Quando o Papa Francisco assume que "(...) os jovens têm que sair e se fazer valer, sair a lutar pelos seus valores", parece-me óbvio que ele não está a fazer-lhes um convite à emigração. Antes convida-os, serenamente, a deixarem de ser amorfos, a não permitirem que os obriguem a carregar a cruz das suas vidas assentes na pobreza e na marginalidade, enfim, incentiva-os à luz da Palavra que lutem pelo direito à esperança, quando, até, esse conjunto de direitos tem configuração Constitucional. Ora, isto não se faz com lengalengas gastas, previsíveis e com cânticos de embalar, antes se faz tocando nas feridas que sangram, em uma tentativa de corrigir processos porque "a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração", disse Francisco.
Ilustração: Google Imagens.
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