A propósito de "ranking's" dos estabelecimentos de ensino, eu que nunca assisto aos comentários do Dr. Marques Mendes (SIC), ontem, parei no exacto momento em que iniciou as suas declarações sobre o tema proposto pelo jornalista. Foi um ror de disparates, absolutamente descontextualizados, de lugares comuns, eu não diria de generalidades, mas de banalidades. À medida que foi discorrendo o seu pensamento, fui arquitectando na minha cabeça, se sobre esta matéria assim fala, em outras que não domino com suficiência, o que não será! Dr. Marques Mendes, por favor, cale-se, porque do sistema educativo o senhor não sabe nada. Rigorosamente nada. Reconheço que, por dever profissional, não sei o que deveria saber, mas o senhor é um zero à esquerda, um superficial. O disparate, repito, pelas banalidades ditas, foi em crescendo ao ponto de terminar com uma proposta: promover uma experiência na escola pública, mas com uma gestão privada.
Sem qualquer rigor, por ausência de estudo sobre esta temática, o comentador varreu os conselhos executivos das escolas públicas e os professores que nelas trabalham. O comentador nem conta se deu (e se dá) que, neste arcaico sistema educativo, há escolas públicas com alunos que atingem, nos exames finais, 20 valores... a tudo! Dois exemplos de Julho de 2015: Gonçalo Madureira, ex-aluno da Escola EB 2/3 e Secundária Miguel Torga, em Sabrosa, Vila Real de Trás-os-Montes, acabou o 12.º ano com 20 a Matemática, 20 a Português e ainda 20 a Biologia e a Psicologia B; na Madeira, a Escola Secundária Francisco Franco emitiu um comunicado em Julho de 2015, no qual informou que aquele estabelecimento de ensino teve mais alunos com nota 20 nos exames nacionais. Da mesma forma que existem outros exemplos quer no sector público, quer no sector privado.
Ora, os problemas que se colocam são outros e que Marques Mendes não domina. E nisto não basta um telefonema a este ou àquele para reunir uns dados que sustentem um comentário. Exige-se muito mais. Marques Mendes não domina a questão organizacional do sistema educativo, não domina as questões de natureza social que a escola pública, todos os dias, enfrenta, não domina a ausência de financiamento, não domina o sistema no plano curricular, programático e pedagógico, não domina a falta de estabilidade do corpo docente, não domina as questões da burocracia que desviou a atenção sobre o aluno para a parafernália burocrática. Marques Mendes falou e disse banalidades e disparates, embora com convicção.
Mas qualquer pessoa atenta percebe onde ele quer chegar: o privado é que é bom, a escola pública um desastre. E não é assim. Se ele falasse dos "ranking's" como um indicador que permitisse outras análises mais profundas, seria aceitável. Ficar pelo facto isolado de uma qualquer classificação desinserida de um contexto mais vasto, torna-se inaceitável e estrábico, sobretudo para quem tem o dever, porque é pago para isso, de trazer junto dos espectadores uma leitura estruturada e não leviana.
Ilustração: Google Imagens.
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