Continua a lengalenga da secretaria regional da Educação. Os "ranking's" são “motivo de satisfação” (...) "esperamos é que as escolas olhem para os seus resultados com lógica de evolução, notando o que é preciso fazer para melhorarem continuadamente" (...) "a nossa perspectiva assenta numa análise global dos resultados, deixando a cada escola espaço para a análise específica dos mesmos”, enfim, um paleio que, anualmente, se repete com algumas nuances. Uns anos melhores, outros piores e outros assim assim. Uns anos destacam os resultados desta ou daquela escola, em outros, a análise recai sobre as médias globais. Basta ter presente todos os dados desde que um "iluminado" começou a ordenar as escolas básicas e secundárias do país. As questões essenciais, as estruturantes, essas, continuam a ser ignoradas. Aquelas de natureza económica, social e cultural, as questões organizacionais do sistema educativo, as ligadas à regionalização, as de autonomia dos estabelecimentos de ensino, as curriculares, programáticas e pedagógicas, as do financiamento do sistema, as da dignidade do exercício da docência, as razões mais profundas do crónico abandono e insucesso, enfim, todas aquelas que, directamente, influenciam o processo ensino-aprendizagem e determinam que uns anos, aparentemente, sejam melhores e, logo a seguir, venham outros desesperantes, todos esses aspectos passam ao lado. E na Educação não se deve viver o momento, porque se a base não é consistente, lá virá o ano, por circunstâncias várias, novas desculpas terão de ser encontradas para justificar o insucesso.
O que esperava ler de um jovem secretário, mesmo sem experiência, mesmo que fervorosamente partidário, é que não ligava nada aos "ranking's", que os lia como indicadores e que a sua preocupação se dirigia para a arquitectura de um novo sistema, devidamente integrado e conjugado com todos os outros sistemas. Esperava ler declarações portadoras de futuro, embora estejamos a anos de luz de outros que souberam ser visionários e científicos. Ficaria cheio de esperança se conseguisse notar que outras preocupações estavam na primeira linha da política educativa e não apenas a vivência do momento (que, mesmo assim, globalmente, tem muito que se lhe diga) como se de um aniversário se tratasse e, para o ano, logo se verá! O secretário, na linha de outros, denuncia ser mais um político de plantão. Não é um político visionário. Como está de plantão, obviamente, que se está marimbando para o futuro. Se assumisse uma postura visionária, obviamente, que teria de assumir um discurso estruturante, de ruptura com o presente, traçando os caminhos de um sistema com a marca do sucesso. Aliás, basta ler, em contraponto, as suas declarações (DN-Madeira), com o oportuno artigo de opinião do presidente do Sindicato de Professores da Madeira. A diferença está entre a página 2 e a página 11! À genérica satisfação do secretário, que foge aos aspectos nucleares do sistema, contrapõe o presidente do sindicato com um conjunto de reflexões que, esmiuçadas, vão ao encontro de um sistema que sobrevive na mediania, com altos e baixos que acabam por justificar cíclicas angústias. Declarar, por exemplo que "(...) as classificações das escolas não devem servir para ordená-las em rankings, como se tratasse de uma prova desportiva” (...) e "o que esperamos é que as escolas olhem para os seus resultados com uma lógica de evolução, notando o que é preciso fazer para melhorarem continuadamente (...)" assume dois significados: por um lado, uma aparente e só aparente desvalorização do ordenamento dos resultados, mas, por outro, uma clara chamada de atenção para os professores no sentido de, vejam lá se trabalham melhor e apresentam melhores resultados. Como se os professores fossem culpados da pobreza que chega à escola e de todo o sistema que é, ele próprio, gerador de entropia. Já não há pachorra para ler quem não quer ler o futuro!
Ilustração: Google Imagens.
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