É curioso. Os partidos são assim ou assado. Os políticos, genericamente, corruptos, palavra esta no sentido mais abrangente do seu significado. Por isso, doravante, dizem, importantes são os movimentos de cidadania que congreguem as vontades do povo que nem sempre são as dos poderes tradicionalmente instituídos. Nada tenho contra esta vaga ou leitura do exercício da política. Sei e defendo que a verdadeira Democracia não começa e não se esgota na via partidária, embora entenda que seja mais profícuo os eleitores mudarem os partidos do que fragmentarem a sociedade. Porém, em abstracto, e isto é que aqui me traz, os mesmos que vilipendiam os políticos, são os mesmos que na hora da eleição de um Presidente da República, de um presidente nascido fora dos corredores normais da politiquice e do seu bas-fond, apareçam a dizer, ah... mas ele não tem passado político, falta-lhe experiência, por onde andou, só agora é que aparece, enfim, mil e uma historietas da treta apenas para descredibilizá-lo, na tentativa de abrir alas, a quem, pergunto? Exactamente àquele que percorreu os tais corredores da política, que concorreu e nunca nada ganhou, que é uma figura partidária desde que o PSD é PSD e que, pasme-se, tenta, agora, passar por um imaculado independente. De uma pressuposta virgindade política própria de altar. A comunicação social anda a fazer-lhe a caminha de tal forma que, segundo se sabe, nem um cêntimo gastará em cartazes! Espantoso, não é?
Falo de Marcelo Rebelo de Sousa vs Sampaio da Nóvoa. O primeiro é, para muitos, "o Professor"; o segundo, apesar de Professor Catedrático e ex-Reitor da Universidade de Lisboa, portador de dois Doutoramentos, um em Ciências da Educação e outro em História Moderna e Contemporânea, para a comunicação social não passa de um quase intrometido em matéria de presidenciais. Parece não interessar a pessoa, o conteúdo, o que significam os valores que defende, o facto de brotar da tal sociedade não partidária, tudo isso, pelo que tenho assistido, é remetido para plano secundaríssimo, pois o que interessa, agora, é o homem partidário, mesmo que desse político ressaltem situações passadas que não abonam em seu favor. Que o diga Paulo Portas que o considerou "filho de Deus e do diabo. Deus deu-lhe a inteligência e o diabo a maldade"(ver aqui). Depois de tantas cenas pouco edificantes, é vê-los, hoje, tão casados nesta candidatura, ao ponto de ter escutado, esta manhã, uma declaração de Paulo Portas a enaltecer Marcelo como um político "abrangente e caloroso". Que hipocrisia e que sentido oportunista.
Não confio na sondagem hoje publicada que dá uma folgada vitória, logo à primeira volta, ao candidato Marcelo Rebelo de Sousa. Será possível, como foi divulgado, que Marcelo conquiste votos junto do eleitorado do Bloco de Esquerda, do Partido Comunista e do Partido Socialista? Não acredito e parece constituir uma passagem de uma qualquer anedota. Cheira-me, por isso, a grosseira manipulação. Que uma certa comunicação social esteja a levá-lo ao colo, por razões empresariais, partidárias e ideológicas que bem se percebem e que são públicas e notórias, compreendo, mas esta de assumir que uma parte dos eleitores do PCP votarão no candidato da direita, bom, essa é por demais fantasiosa. Logo um eleitorado que é dos mais politicamente esclarecidos no plano das opções eleitorais. Daí que, repito, embora estejam a fazer a caminha a Marcelo, não acredito nesta intenção do eleitorado. Aliás, será que nada significa o facto de Sampaio da Nóvoa ter o apoio explícito de Mário Soares, Ramalho Eanes e Jorge Sampaio, três ex-presidentes da República? Tem significado zero o facto de tantas referências públicas, de todos os quadrantes políticos, económicos, sociais e culturais estarem ao lado de Sampaio da Nóvoa? Ora bem, exige-se decência e rigorosa independência dos órgãos de comunicação social. Que eu, no meu blogue ou no FB, demonstre a minha intenção de voto, é uma coisa, sou eu e apenas eu, porém, à comunicação social exige-se distanciamento, esclarecimento e rigor. Quando tal não acontece, ora bem, só há uma palavra para caracterizar: manipulação.
Termino, deixando aqui as declarações de um outro académico, hoje ministro, Doutor Augusto Santos Silva: "(...) António Nóvoa apresentou-se sem subterfúgios nem tacticismos. Quero um Presidente que contribua para consciencializar os Portugueses das dificuldades por que passam, mas também para exortá-los a que as ultrapassem, valorizando o território, a língua, a educação, o conhecimento, a iniciativa e o talento. Quero um Presidente orientado para o futuro, que projete esperança".
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